OS IMPASSES NO COMBATE À DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA

O romance epistolar ‘Os Sofrimentos do Jovem Werther’, de Johann Goethe, retrata a desventura do protagonista que, ao sofrer por um amor não correspondido, resolve tirar a sua própria vida. Na época, o tom perturbador do livro provocou uma comoção entre os adolescentes os quais, influenciados pelo aspecto depressivo de Werther, cometeram suicídio. Paralelamente, pode-se associar a trama ao contexto hodierno, visto que a depressão tem se mostrado frequente entre os jovens. Nesse viés, convém avaliar tal quadro, agravado não só pela autocobrança excessiva, como também pelo uso indiscriminado das redes sociais.

A priori, é fato que há, na atualidade, jovens mais exigentes sobre si mesmos do que no século passado. De acordo com o filósofo Byung-Chul Han, em seu livro ‘Sociedade do Cansaço’, a imagem de um chefe autoritário foi substituída pela possibilidade de autoliderança entre as pessoas, as quais passam a almejar, a qualquer custo, o melhor aprimoramento individual. Tal conjuntura prova-se prejudicial aos mais jovens, uma vez que, com a proximidade da vida adulta, a pressão para ir bem no vestibular, ter muitos amigos e um relacionamento amoroso, por exemplo, somadas ao excesso de autocobrança, propicia a instalação de psicopatologias, como a depressão. Destarte, hoje o indivíduo se explora e, erroneamente, acredita que isso é realização.

A posteriori, apesar de a humanidade nunca ter sido tão globalizada quanto na contemporaneidade, presencia-se um frequente afastamento entre indivíduos, fomentado pelo contexto cibernético. Sob esse viés, o sociólogo Zygmunt Balman defende que as redes sociais têm contribuído para a fragilidade das relações humanas. Assim, na medida em que ‘seguir’ novas pessoas se tornou mais fácil, ‘bloqueá-las’ também. Ademais, a comparação estimulada pelo estilo de vida ‘perfeito’ postado nas redes sociais é nociva aos jovens, haja vista que a pouca experiência dificulta a percepção dessas irrealidades, acarretando uma menor autoestima entre os adolescentes e, consequentemente, prejuízos na saúde mental dos mesmos.

Portanto, é mister que o Estado tome providências para amenizar o quadro atual. Urge que o MEC (Ministério de Educação e Cultura), por meio de verbas governamentais, promova palestras em instituições educacionais de nível fundamental e médio, trazendo psicólogos e psiquiatras especialistas no atendimento de adolescentes, a fim de incentivar o debate acerca da depressão e, consequentemente, diminuir a ocorrência dessa psicopatologia entre os jovens. Somente assim, a sociedade brasileira não mais será análoga a trama de Goethe.