Tema: O legado da escravidão e o preconceito contra negros no Brasil

O conceito de “Banalidade do Mal” – refletido pela filósofa alemã Hannah Arendt – defende que a repetições sistemáticas de problemas sociais passa a ser ignoradas pela população, tornando-se aceitas por ela. Desse modo, é possível observar que tal pensamento está presente no Brasil contemporâneo, dado que a marginalização da cultura negra, presente desde o período de formação do país, tornou-se um fato ignorado pela sociedade, perpetuando sua existência. Nesse sentido, a representação de indivíduos negros de, na língua, maneira negativa e o rebaixamento cultural desse povo são exemplos de legados da escravidão no Brasil.

Primeiramente, cabe avaliar que a construção linguística brasileira reflete o racismo. Nesse âmbito, em seu vídeo “A Realidade é Subjetiva”, a “drag Queen”Rita Von Hunty desnuda a influência da língua e das palavras que a compõe sobre a sociedade, ressaltando a capacidade de excluir ou incluir indivíduos. Dessa forma, é possível observar que essa realidade está presente no atual contexto sociocultural brasileiro, tendo em vista que, em virtude da forte influência da escravatura, a população preta é marginalizada tanto pela sociedade quanto pela língua. A exemplo disso pode-se citar o uso de expressões que utilizam “negra” para designar algo negativo – como magia negra e lista negra -, contrastando com a ideia de positividade associada ao termo “branco” – como magia branca. Assim, é incompatível a ideia de pertencimento a uma sociedade com representação dos indivíduos negros arraigada pelo racismo em sua maior instrumento de comunicação: a língua.

Ademais, vale ressaltar que a associação da cultura africana a elementos malignos é um dos legados da escravidão. Isso ocorre, pois, no século XVI, o cristianismo – religião difundida pelos portugueses – considerava as entidades das religiões de matrizes africanas como seres malignos. Embora exista a tentativa de romper com tal paradigma, é possível observar que ele, infelizmente, se encontra presente no Brasil contemporâneo. Prova disso foi a acusação de não merecimento da vitória da escola “Acadêmicos do Grande Rio” por utilizar um “demônio” em seu carro alegórico. Dessa forma, tal situação reflete a influência do racismo, posto que a figura representada pela escola de samba é um orixá – uma das entidades de religiões de matrizes africanas. Em vista disso, são necessárias intervenções sociais para romper com a marginalização da cultura negra.

Portanto, infere-se a necessidade de romper com o paradigma racial no cenário brasileiro. Logo, compete ao Estado – na condição de garantidor dos direitos dos cidadãos – eliminar da língua portuguesa palavras de cunho racistas, e, por meio de palestras nas escolas – ministradas por historiadores e linguistas – fomentar o não uso desses termos. Essa ação tem como objetivo sanar o quadro de exclusão linguística vivida pelos afrodescendentes. Também, o Ministério da Educação deve, por meio da inclusão da história da África à BNCC, informar os indivíduos sobre a cultura africana, com o fito de romper com a estigmatização de religiões dessa matriz.

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