Texto 1
Há dois grupos de pobres no Brasil, com condições de vida relativamente distintas, embora haja grande mobilidade entre eles: o pobre rural e o urbano, morador em favelas. O primeiro grupo vem diminuindo fortemente nas últimas décadas devido ao êxodo rural enquanto o segundo só tem aumentado. Hoje, 82% da população brasileira vive na zona urbana (Opas, 1998), tanto nas grandes cidades como nas pequenas cidades do interior. As condições de vida dos pobres, seja nas cidades grandes, seja nas pequenas, são semelhantes no que se refere à atividade econômica, alimentação etc. Um exemplo do crescimento da população pobre em zona urbana é o município de São Paulo, cuja população moradora em favelas era desprezível antes da década de 1970 (Marques e cols., 2003) e hoje compreende cerca de 15 a 20% da população do município: ou seja, 1,2 a dois milhões de pessoas (dependendo do método de cálculo) moram em favelas (Marques e cols., 2003; Sehab, 1994). [protected]
Estudos que diferenciam a população rural da população urbana pobre mostram que a situação de saúde, nutricional e de pobreza é pior no campo e este é o motivo para tão grande êxodo rural, entre outros fatores (Opas, 1998). Estima-se que cerca de 10% dos pré-escolares tenham retardo do crescimento no Brasil (Benfam, 1997), enquanto no Nordeste rural a prevalência de nanismo em crianças de até dez anos é de 39,8% (Ferreira e cols., 1996). Esta alta prevalência de desnutrição na zona rural confunde, porém, o tamanho do problema, pois em termos absolutos, é maior o número de crianças desnutridas que se encontram nos bolsões de pobreza e favelas das zonas urbanas, uma vez que a maioria dos brasileiros vive hoje em zona urbana.
A pobreza urbana e a rural difere bastante entre si. Essas diferenças precisam ser bem conhecidas para que intervenções adequadas possam ser efetivas e atuar nos problemas mais determinantes para o quadro de pobreza. No Nordeste rural, por exemplo, acesso a estradas para escoamento da produção agrícola, falta de crédito rural, secas que provocam fome sazonal, falta de acesso à água, pouca cobertura dos serviços de saúde etc., são fatores determinantes para a condição de vida e pobreza. Já a pobreza e a desnutrição da zona urbana têm outros fatores mais determinantes, como baixa escolaridade materna, gravidez na adolescência, desemprego, violência e isolamento social, drogadição, condições de moradia e saneamento inadequadas, maus hábitos alimentares influenciados pela propaganda das indústrias de alimentos (consumo diário de refrigerantes, salgadinhos e biscoitos, por exemplo) etc. (Adaptado de SAWAYAM A.L.; SOLYMOS, G.M.B; FLORÊNCIO, P.A. ‘Os dois Brasis: quem são, onde estão e como vivem os pobres brasileiros.In: Estud. av. vol.17 no.48 São Paulo May/Aug. 2003)
Texto 2
Ruffato inicia definindo o Brasil como um país dominado monetariamente pelo capitalismo selvagem, em todos os seus significados. Também expõe dados sociais e os compara com indicadores globais, conforme a seguir:
- A desigualdade brasileira: 75% de toda a riqueza encontra-se nas mãos de 10% da população branca e apenas 46 mil pessoas possuem metade das terras do país, aponta o escritor, que lembra que em oposição a estes indicadores a economia brasileira é a sétima do planeta, apesar do país permanecer em terceiro lugar entre os mais desiguais entre todos.
- O índice de assassinatos no país: Ruffato destaca a alta taxa de homicídios no Brasil, que chega a de 20 assassinatos por 100 mil habitantes, o que equivale a aproximadamente 37 mil pessoas mortas por ano, considerando a população brasileira – número três vezes maior do que a média mundial. A explicação poderia ter raízes históricas, e o escritor invoca a constituição do povo brasileiro, marcada pelo extermínio dos povos indígenas: eram 4 milhões de indígenas na época do descobrimento do Brasil, e hoje restam cerca de 900 mil, parte deles vivendo em condições miseráveis em assentamentos de beira de estrada ou até mesmo em favelas nas grandes cidades.
- Violência contra mulheres e crianças: o autor ressalta que o Brasil ocupa o vergonhoso sétimo lugar entre os países com maior número de vítimas de violência doméstica, com um saldo, na última década, de 45 mil mulheres assassinadas, ao passo que em 2012 foram registradas mais de 120 mil denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes. Ruffato lembra ainda que estes números são sempre subestimados, tanto em relação às mulheres quanto às crianças e adolescentes, por diversas questões, muitas vezes familiares.
- O problema do analfabetismo: ocupamos os últimos lugares no ranking que avalia o desempenho escolar no mundo, já que 9% da população permanece analfabeta e 20% são classificados como analfabetos funcionais, ou seja, um em cada três brasileiros adultos não tem capacidade de ler e interpretar os textos mais simples.
- Mercado editorial brasileiro: este mercado movimenta anualmente em torno de U$S 2,2 bilhões, sendo que 35% deste total representam compras pelo governo federal, destinadas às bibliotecas públicas e escolares. No entanto, continuamos lendo pouco, em média menos de quatro títulos por ano, e no país inteiro há somente uma livraria para cada 63 mil habitantes, ainda assim concentradas nas capitais e grandes cidades do interior.
Todavia, o escritor não deixa de relatar pontos positivos: a maior vitória de sua geração foi o restabelecimento da democracia – são 28 anos ininterruptos, trata-se do período mais extenso de vigência do Estado Democrático de Direito em toda a história do Brasil. Com a estabilidade política e econômica, vimos acumulando conquistas sociais desde o fim da ditadura militar, sendo a mais significativa, sem dúvida alguma, a expressiva diminuição da miséria: um número impressionante de 42 milhões de pessoas ascenderam socialmente na última década. A implementação de mecanismos de transferência de renda, como as bolsas-família, ou até mesmo os de inclusão, como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas, também seriam pontos positivos a serem destacados.
Por fim, sem esquecer dos problemas estruturais diários, o escritor lembra que continuamos a ser um país onde moradia, educação, saúde, cultura e lazer não são direitos de todos, e sim privilégios de alguns. Em que a faculdade de ir e vir, a qualquer tempo e a qualquer hora, não pode ser exercida, porque faltam condições de segurança pública. Em que mesmo a necessidade de trabalhar, em troca de um salário mínimo equivalente a cerca de 300 dólares mensais, esbarra em dificuldades elementares como a falta de transporte adequado. Em que o respeito ao meio-ambiente inexiste. Em que nos acostumamos todos a burlar as leis. (Localizado em http://opiniaoenoticia.com.br/brasil/os-dois-brasis/)
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Com base nos textos acima e no seu conhecimento de mundo, escreva um texto dissertativo-argumentativo sobre o seguinte tema:
Os diferentes “Brasis” e suas diferenças sociais
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