TEXTO I
“A sede da Sanofi evoca a transparência e o respeito aos pacientes, cujas silhuetas estilizadas estão entronizadas no alto do edifício, rodeadas por um coração azul. No terceiro andar desse prédio situado no sul de Paris encontram-se os serviços de marketing, onde ficam os funcionários que trabalharam, desde os anos 1990, para introduzir o Pyostacine no mercado das infecções respiratórias. Com um sucesso evidente, já que, do inverno francês de 2002 ao de 2010, o número de vendas do produto para tratar infecções broncopulmonares saltou 112%, enquanto a progressão foi de apenas 32,6% no campo dermatológico.
Esse aumento não corresponde a uma explosão do número de doentes ou a uma epidemia devastadora, mas a uma estratégia comercial: o mercado de infecções respiratórias apresenta um volume de prescrições muito mais significativo que o de infecções dermatológicas. ‘Nos germes que infectam os brônquios, o pulmão, os sínus, tudo funciona superbem’, lembra um médico da empresa. ‘Em vista disso desenvolveu-se essa indicação’. Da pele ao pulmão, o valor de troca metamorfoseou o valor de uso, quando se deveria esperar que a utilidade de um produto determinasse seu preço.
Os ourives desse gênero de virada terapêutica são os gerentes de produto, assalariados especializados na promoção de um único medicamento ou de alguns medicamentos com indicações próximas. Temos o ‘gerente Pyostacine’, o ‘gerente Tavanic’, o ‘gerente antalgia’ e mesmo o ‘gerente psicóticos’. Célia Davos, a gerente de produto Pyostacine, descreve o conteúdo de sua profissão: ‘O job é acompanhar o desempenho do produto, é ver para onde ele vai, segundo os concorrentes, segundo o mercado, segundo a patologia, e colocar tudo isso em ação para maximizar o volume de negócios’. Esse cargo, situado no coração do serviço de marketing, funciona como um centro nevrálgico a que os funcionários chegam de diversos serviços e podem em seguida ser redistribuídos para outros horizontes, como gerentes responsáveis pelo serviço de marketing, comunicação, negócios públicos, vendas”.
Fonte: https://diplomatique.org.br/as-duas-faces-da-industria-farmaceutica/ – Acesso em 22.02.2021.
TEXTO II
“Como qualquer outro setor da economia, a indústria farmacêutica visa o lucro. Nada de errado com isso, e tem dado certo: em 2008, ela movimentou US$ 725 bilhões – o Brasil faturou US$ 12 bilhões. Só a fabricação da aspirina movimenta US$ 700 bilhões por ano. Seu princípio ativo, o ácido acetilsalicílico, é considerado um dos produtos mais bem-sucedidos da história do capitalismo.
Para que isso seja possível, é preciso saber vender. “A indústria farmacêutica é tudo, menos uma instituição filantrópica”, diz Fernando Italiani, autor do livro Marketing Farmacêutico. Fernando já foi gerente de marketing de laboratórios e hoje dá cursos de vendas e planejamento estratégico para funcionários de laboratórios e farmácias”.
Fonte: https://static.poder360.com.br/2019/09/Indicador-de-Bem-Estar-Financeiro.pdf – Acesso em 09.02.2021.
TEXTO III
“Reportagem de capa da revista Valor fala sobre como os avanços tecnológicos na indústria farmacêutica têm criado um abismo entre quem pode e quem não pode bancar medicamentos cada vez mais caros e personalizados. São as terapias gênicas, feitas sob medida, a fronteira que o setor está interessado em explorar agora. Enquanto isso, nota a reportagem, as empresas perdem o interesse em produzir coisas básicas como insulina. Sem falar em achar soluções para doenças que sempre foram negligenciadas por atingir as populações pobres do planeta. Segundo relatório da OMS, a cada US$ 1 investido em pesquisa e desenvolvimento, a indústria obteve um retorno de aproximadamente US$ 14 – o que significaria, na avaliação de oficiais do organismo, que parte dela está se concentrando em produtos de alto retorno para o investimento, o que desequilibra a oferta de medicamentos.
Por aqui, a entidade que representa a indústria nacional – Sindusfarma – defende que cabe aos laboratórios públicos atender a população com medicamentos de menor interesse comercial, como penicilina, os remédios mais antigos que já perderam as patentes e os medicamentos para doenças negligenciadas. Às empresas “caberia” apenas os nichos lucrativos do mercado. O que, é claro, como nota Jorge Mendonça, diretor do laboratório público Farmanguinhos, da Fiocruz, causa um estrangulamento para o setor público, ainda mais em um cenário de desfinanciamento da saúde. E a penicilina é um bom exemplo, pois está faltando em diversas unidades públicas do país”.
Fonte: https://outraspalavras.net/outrasaude/a-industria-e-seu-abismo-quando-o-que-mais-precisamos-nao-interessa/ – Acesso em 22.02.2021.
A partir da leitura dos textos motivadores, redija um texto dissertativo-argumentativo, em norma-padrão da língua portuguesa, a respeito do tema: As duas faces da indústria farmacêutica: quais os limites entre as necessidades dos doentes e os lucros das indústrias? Selecione e organize fatos e argumentos relacionados a distintas áreas do conhecimento que contribuam para a defesa de um ponto de vista. Apresente proposta de intervenção que respeite os direitos humanos.
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