TEXTO 1
Em busca da simplicidade
Moacyr Scliar – médico
É preciso simplificar o que pode ser simplificado, é preciso resistir à tentação do consumo e da tecnologia, mas sem renunciar ao progresso
Moacyr Scliar
Os americanos adoram o escritor do século 19 Henry David Thoreau, figura singular na história dos Estados Unidos. Thoreau lançou o conceito da “desobediência civil”, segundo o qual o cidadão tem todo o direito de resistir às disposições de um governo injusto (um conceito que, aliás, tem seguidores aqui no Brasil, principalmente quando o assunto é carga tributária). Também foi um pioneiro da luta ecológica e talvez por causa disso a certa altura de sua vida foi morar no mato, num lugar chamado Walden, onde procurou levar uma vida muito simples. Desta experiência nasceu o livro Walden, que até hoje é uma espécie de Bíblia para aqueles que recusam as complexidades (e as complicações) de nossos tempos. Thoreau teve numerosos seguidores; os hippies, que viviam no campo, em comunas, de certo modo eram seus discípulos, ainda que Thoreau dificilmente tivesse aprovado a maconha. Na verdade suas idéias não eram inteiramente novas; os escritores românticos já diziam coisas parecidas, a partir da idéia de Rousseau, segundo a qual o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Sair das cidades, entrar mato adentro (às vezes sem roupas) era um sonho romântico.
Um sonho que não morreu. Vivemos num mundo em que a complexidade é a regra. A complexidade na vida social, a complexidade nas relações pessoais e sobretudo a complexidade da tecnologia. Deus, quantas milhares de coisas um celular, um computador, podem fazer! Pesquisas mostram que, em média, as pessoas não usam mais que 10% das possibilidades oferecidas por um software relativamente comum como é o Word. A ansiedade das empresas diante do mercado é tal que a ordem agora é: primeiro vender, depois testar. E os testes demonstram que nem tudo corre bem. Aproximadamente 22% dos computadores estragam dentro do primeiro ano de uso, contra só 8% dos refrigeradores, um eletrodoméstico que passou o teste do tempo. Complexidade não é sinal de inteligência; complexidade é sinal da hiperatividade mental de quem bola os produtos. Daí que nos Estados Unidos a diretriz para a área agora seja resumida no acrônimo Kiss, que significa beijo, mas é formado das iniciais da frase “Keep it simple, stupid”, “Mantenha a simplicidade, seu estúpido”.
Esta desconfiança se estende a muitas áreas. Há pessoas que recusam modernos remédios e procedimentos, preferindo a chamada medicina alternativa, inclusive aquela praticada por curandeiros. É a chamada cultura do primitivismo, segundo a qual existia, na mente primitiva, uma sabedoria que estamos perdendo.
Mas isto, por sua vez, gera desconfianças. Os franceses têm uma expressão famosa: “nostalgie de la boue”, a nostalgia do barro, do lamaçal, ou seja, daquelas condições precárias em que se vivia no passado. Será que as pessoas viviam assim porque gostavam – ou por que não tinham alternativa? Afinal, Thoreau morou em Walden pouco mais de dois anos, o que não chega a ser uma existência. Agüentaria ele o lugar por três, quatro décadas? Já Millôr Fernandes é taxativo a respeito: eu sou do asfalto, disse, num texto famoso. Tradução: apesar dos pesares, a vida moderna ainda tem suas vantagens.
Provavelmente, e como sempre acontece, a virtude estará no meio. É preciso simplificar o que pode ser simplficado, é preciso resistir à tentação do consumo e da tecnologia. Mas não temos de passar mal, não precisamos renunciar ao progresso. Como sempre, a sabedoria está no meio. Entre Walden e o condomínio horizontal de luxo.
(Localizado em http://www.libertas.com.br/site/index.php?central=conteudo&id=2355)
TEXTO 2
Na contramão da sociedade contemporânea, homens e mulheres optam por uma vida mais simples. Eles garantem que são mais felizes. Conheça as histórias
Você pode ter passado a vida inteira, ou parte dela, ouvindo a expressão: tempo é dinheiro. Conhecido de perto um universo em que ter do “bom e do melhor” é sinônimo de uma vida sossegada. Também deve ter escutado, e acreditado, que comprar roupas, sapatos e supérfluos alivia o estresse, principalmente, das mulheres durante a tensão pré-menstrual (TPM). Que shopping é e será um dos melhores lazeres desta vida moderna. Agora, suponha que tudo isso virasse de cabeça para baixo. Em nome da simplicidade do ser, homens e mulheres, de idades diferentes, chacoalharam esses velhos conceitos cada vez mais impostos à sociedade e optaram, sem culpa e com leveza, por uma vida simples. Acreditam que precisam de pouco para se satisfazer e asseguram que o lucro com tudo isso não se vende nem se troca, e tem nome: felicidade.
Não se trata de um movimento, mas um fenômeno sem causa única e nenhuma regra. Essas pessoas estão, aos poucos, caminhando por conta própria em busca da simplicidade, sem fazer publicidade disso. Alguns mudaram de cidade, outros conseguiram isso morando em uma capital como Belo Horizonte. E não estão sós. A tal simplicidade já chama a atenção do mundo, já que grandes homens, que poderiam esbanjar mordomias, disseram “não” a elas e a tudo que elas remetem. O ex-guerrilheiro José Mujica, atual presidente do Uruguai, por exemplo, mora em uma casa deteriorada na periferia de Montevidéu, sem empregado nenhum. Seu aparato de segurança: dois policiais à paisana estacionados em uma rua de terra.
Outro que recebeu os olhares do planeta é o Papa argentino Francisco, que despertou a simpatia dos católicos e até mesmo de quem não segue a religião, por quebrar protocolos da Igreja. Sabe-se que antes de chegar ao cargo mais alto da instituição, no dia 13, quando foi escolhido como Papa, ele andava de metrô e ônibus por Buenos Aires e cozinhava a própria comida. Já como líder do catolicismo, ele dispensou o carro oficial ao celebrar uma missa e caminhou pelas ruas, aproximando-se mais do povo.
BONS EXEMPLOS
Mas não é preciso ir a Roma ou ao Uruguai para conhecer pessoas que apostam nesse modo de vida. O Bem Viver conheceu bons exemplos dessa vida simples. São guerreiros que nadam contra a maré em uma sociedade que, cada vez mais, valoriza o supérfluo como a garantia para ser feliz. “Hoje, o que predomina é o consumismo mais exacerbado, mas se há grupos buscando essa simplicidade é um sintoma de que essa exaustão das buscas frenéticas acaba não levando a lugar nenhum”, comenta o psicólogo, psicanalista e doutor em filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Roberto Drawin.
Certos de que há muito mais quando se tem menos, os entrevistados para esta reportagem servem como verdadeiras lições de vida. Maria Madalena Aguiar, de 66 anos, diz ser “feliz demais” em levar uma vida baseada na simplicidade e acredita, por exemplo, que está mais perto de Deus. Já Guilherme Moreira da Silva, de 56, mora em um sítio em Macacos, na Grande BH, e garante que “ser simples” traz a ele conforto, alegria, prazer e felicidade. A mesma sensação tem Priscila Maria Caliziorne Cruz, de 23, que ao optar por esse estilo de vida diz ter ampliado sua consciência, ficando mais inteira e presente na vida. “A simplicidade nos obriga a olhar para nós mesmos”, comenta o frei Jonas Nogueira da Costa, que desde menino se encantou pela vida de São Francisco de Assis e adotou a espiritualidade franciscana. Para a advogada Débora Paglioni, de 23 anos, ser simples vai muito além de ter dinheiro. “Tem a ver com bem-estar e consciência”, afirma.
SOMENTE O NECESSÁRIO
Carro, só ser for para locomoção. Telefone é para se comunicar, não precisa de touch screen nem aplicativos mirabolantes. Roupas ou sapatos novos somente quando forem de extrema necessidade, afinal, para quê mais? Comer bem não é ir a restaurante refinado, mas aquilo que é feito em casa. Ter uma vida simples passa por muitas dessas posturas, que não são regras.
Mas quem decide viver com o que é necessário nega o que hoje é tão valorizado, como a corrida disparada pelos melhores celulares, casa, carros e as mais belas joias. E acaba consciente de que o tempo e a energia investidos para a aquisição de coisas podem minguar as oportunidades de conviver com o outro, de buscar a espiritualidade, autoconhecimento e senso de comunidade. É como se essas pessoas se abrissem mais para o mundo ao seu redor e dissessem: “Desapeguei”. Talvez por isso, elas são serenas, sorridentes e leves, vivendo somente com o necessário, aquilo que para elas é essencial.
Esse desapego e vontade de viver somente com o que precisa não é algo que a humanidade conheceu hoje. O psicólogo, psicanalista e doutor em filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Roberto Drawin destaca que esse comportamento é antigo e vem desde antes do cristianismo. “Vem de uma sabedoria grega. Não é só no sentido de não ter bens materiais, mas não transformá-los em uma tirania.” Ele conta que existia uma corrente da filosofia grega, o chamado estoicismo, que mostrava que o homem só atinge a felicidade se ele for livre, ao se livrar das dependências dos bens materiais. “Isso foi seguido tanto por um escravo quanto pelo imperador.”
De tanto desapegar desses bens, Guilherme Moreira da Silva, de 56 anos, é chamado de Mazzaropi pelos amigos, em alusão ao cineasta, ator de rádio, TV, de circo, cantor e diretor Amácio Mazzaropi, que, mesmo rico, foi conhecido como o gênio da simplicidade. Ele marcou a história do cinema nacional ao mostrar personagens simples e uma linguagem bem próxima do povo. Guilherme não optou pela arte. Desde menino, sofria de bronquite e a medicina não lhe dava esperança de cura. Por meio de uma vida que ele mesmo chama de alternativa, conseguiu se livrar da doença, desafiando até o diagnóstico médico.
Nascido e criado em Belo Horizonte, há 30 anos Guilherme se mudou para São Sebastião das Águas Claras, mais conhecido como Macacos, na Grande BH. Formado em arquitetura e especializado em paisagismo, ele morou na Espanha por um ano. Mas foi em Macacos, em um sítio em meio à natureza, que se encontrou. Por 15 anos, morou ali sem energia elétrica. Ele diz até hoje não comprar roupas e só usar aquelas que seus irmãos lhe dão. “Não atribuo grandes valores ao materialismo. Tenho uma caminhonete porque preciso dela para trabalhar.”
Guilherme hoje mexe com produtos naturais, vende pães integrais e come tudo o que planta. Onde mora não há internet. “A minha bronquite que me incomodava muito. Queria uma vida saudável. Esse modelo que adotei tem raízes profundas em querer sobreviver e gostar da vida. Chegou o momento em que o mais importante era a qualidade do ar que respirava , o contato com a terra e a comida que comia.”
Em uma casa de alvenaria sem luxos nem precariedade, Guilherme tem uma televisão, que de vez em quando é ligada. “A vida pode ser muito mais simples. A busca por ter tudo, trocar o velho pelo novo, traz desconforto. A sociedade nunca está satisfeita.” Para ele, a vida no campo traz essa simplicidade, alegria, conforto e prazer.
(Adaptado de http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/04/homens-e-mulheres-que-optaram-por-uma-vida-simples.html)
[box]Os dois textos acima falam sobre a busca por uma vida mais simples, movimento contrário ao consumismo exagerado nos dias atuais. Com base nesses dois textos, coloque-se na posição de uma pessoa que adotou um estilo de vida mais simples e decide escrever um relato contando sobre essa experiência. Neste relato, você deve:
a) Explicitar o motivo que o levou a buscar um estilo de vida mais simples;
b) Descrever como é viver contra o consumismo exagerado dos dias atuais.[/box]
A redação não tem limites de linha, porém, os vestibulares no geral fornecem ao candidato uma folha pautada contendo de 30 a 40 linhas. Tente não passar desse limite. Leve em conta o tamanho da sua letra de mão na hora de escrever seu texto no computador.
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