“Os perigos da busca pelo padrão corporal”

A obra surrealista “O duplo segredo”, de René Magritte, retrata um indivíduo com uma feição neutra e com um interior obscuro e repleto do que pode ser interpretado como angústias, dificuldade de aceitação e ansiedade. De modo análogo, a busca incessante pelo padrão corporal tão difundido pelas antigas revistas e, no hodierno, pelas redes sociais, gerando consequências similares à pintura, uma vez que essa procura possui um caminho infinito, em detrimento do modelo estético ser impossível de se atingir. Com isso, a pretensão para alcançar esse paradigma traz perigos na saúde física do sujeito que a busca, bem como pode acarretar impasses psicoemocionais.

À vista disso, essa busca histórica desenfreada para obtenção de um padrão corporal disseminado pode trazer problemas à saúde do indivíduo. Nesse sentido, a propagação de modelos estéticos a serem seguidos não é uma tendência atual, dado que sempre foram visualizados na sociedade, a exemplo de revistas de meados de 1800 que elucidavam mulheres com cinturas bastante finas, o que propagou o uso de espartilhos extremamente apertados com o viés de alcançar o inalcançável, o qual, em muitos casos, prejudicava a saúde dos sujeitos. Desse modo, no hodierno, com a difusão deste ideal de corpo perfeito é visto nas redes sociais, em que há grande divulgação de procedimentos estéticos, os quais tiveram um aumento de 141% entre jovens de 13 a 18 anos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Assim sendo, muitos desses processos proporcionam dependência de certos medicamentos, como também tirar a vida dos jovens, por serem cirurgias invasivas e precoces.

Diante desse cenário, é cada vez mais frequente casos de potencialização de doenças psicoemocionais por conta da tentativa de chegar a um ideal estético. Posto isso, o poema “Ismália”, de Alphonsus de Guimaraens, retrata sobre uma jovem que comete suicídio lançando-se de uma torre, o que pode ser relacionado como uma grande consequência da busca dissimulado pelo padrão corporal. Sob esse viés, a falta de aceitação do próprio sujeito, somado a intensa divulgação de ideais de corpos perfeitos nas redes e, também, com inúmeros procedimentos, faz com que os jovens se sintam cada vez mais pressionados e impacientes a realizar tais processos. Entretanto, essa prática só potencializa o obscuro interior visto na obra de René e, por conseguinte, as doenças psicológicas como ansiedade e depressão, podendo levar, infelizmente, a geração de “Ismália’s” do contemporâneo.

Destarte, é imprescindível que o Ministério da Saúde em conjunto com o Ministério da Cidadania – já que são os órgãos responsáveis por zelar da saúde e do bem-estar dos cidadãos, respectivamente – faça uma parceria público-privada com canais televisivos com o intuito de sensibilizar a sociedade acerca dos padrões corporais e os seus perigos. Isso sendo feito por meio de novelas, as quais possuam esse tema como eixo temático principal. Tudo isso a fim de que menos “Ismália’s” sejam visualizadas no hodierno, bem como o padrão histórico seja rompido.