Os desafios da alfabetização no Brasil

No filme Matilda, de 1996, a personagem que intitula a obra audiovisual é uma menina de 8 anos que vivencia um ambiente familiar turbulento: seus pais frequentemente iniciam discussões e negligenciam a própria filha. Entretanto, mesmo diante desse cenário, Matilda desenvolve uma paixão pelos livros e pelo conhecimento, experienciando descobertas transformadoras com sua professora, a senhorita Honey. Paralelamente à ficção, muitos estudantes brasileiros não desfrutam das mesmas oportunidades que a personagem, em virtude da desigualdade social e da estrutura educacional do país.

Segundo a Declaração Universal de Direitos Humanos, a educação é direito de todos e dever da família e do Estado. Contudo, apesar do que é afirmado do documento da Organização das Nações Unidas, promulgado em 1948, muitos cidadãos são privados dessa prerrogativa, devido às disparidades econômica e social, que afetam de modo mais proeminente os alunos de regiões interioranas e rurais, em função das distâncias até as instituições educacionais e do sistema de transporte coletivo deficiente, que não atende integralmente às necessidades da população. Assim, com a carência de políticas públicas que garantam o acesso total dos indivíduos à educação, o processo de alfabetização no país é dificultado.

Outrossim, o sistema educacional vigente nas escolas brasileiras também contribui com a persistência da problemática. Nesse contexto, faz-se necessário referenciar o pedagogo John Dewey, que afirma que a educação é um processo social. Atualmente, o ensino nos centros de aprendizagem do país prioriza a avaliação periódica dos estudantes, supervalorizando os resultados desta e negligenciando o próprio aluno, que se torna uma mera máquina de armazenamento de informações. Com isso, a educação torna-se deficiente, complexificando a formação do aluno e minimizando sua função social, preconizada pelo educador norte-americano.

Sob esse viés, é mister que medidas sejam aplicadas, visando à mitigação do impasse. Inicialmente, as Secretarias de Educação, em parceria com os governos municipais, deverão, a partir de capital público, introduzir novas frotas de transportes escolares nas cidades brasileiras, especialmente nas afastadas das regiões metropolitanas, a fim de viabilizar o acesso dos estudantes periodicamente às instituições de ensino. Ademais, o Ministério da Educação, por meio de verbas governamentais, deverá reformar a didática das escolas do país, priorizando a aplicação dos conhecimentos aprendidos em sala de aula no cotidiano dos alunos, no intuito de torná-los protagonistas de seu próprio aprendizado. Logo, reduzindo as desigualdades sociais e reformando o sistema educacional nacional, espera-se que as experiências transformadoras vivenciadas por Matilda possam ser verificadas no Brasil.