“O que o mundo separa, a música aproxima”

Tema do Rock In Rio 2017 e constante proposta de festivais como o Lollapalooza, a tentativa de união das diferentes tribos e de maior abrangência musical tem sido norteadores das produções na atualidade, não por uma vontade dos organizadores, mas por uma exigência do público.

Um grande exemplo de como a indústria musical funciona é a trajetória do Roque. Gênero musical, criado para ser subversivo e rebelde, foi absorvido pelo sistema após a ampla divulgação, desde o início do século XXI, de reportagens e pesquisas, como algumas feita pela revista Estadão e jornal Folha de SP, indicando que o gênero em questão seria o preferido entre pessoas mais cultas e inteligentes, elitizando o mesmo. A apropriação de gêneros culturais marginalizados para lucro por grandes empresários cria uma falsa ideia de pertencimento às classes mais baixas e um sentimento de dever cumprido para as classes mais alta.

A gradual inclusão, em festivais, de gêneros tidos como marginalizados, como o hip hop e funk, tem aumentado, porém ainda em palcos menores e dificilmente com algum tipo de destaque. O assustador é que a parcela da população que é marginalizada e retratada nessas músicas dificilmente estão nesse espaço como audiência, se conseguem acesso é em uma posição de empregados para algum tipo de serviço, como venda de comidas e bebidas. Os preços exorbitantes dos ingressos, que muitas vezes chegam a ultrapassar o valor do salário mínimo, garantem que essas pessoas não acessem esses locais como deveriam.

Em consideração aos pontos apontados, nota-se que chamadas assim em festivais são apenas retratos de uma estratégia capitalista, não necessariamente consciente, de apropriação cultural. É necessário que o Estado intervenha e contribua para o maior acesso da população baixa renda a locais de lazer e entretenimento, seja com custeamento de parte da produção, como já acontece em parte com a Lei Roanet, com incentivos fiscais, estabelecimento de um limite a ser cobrado diretamente da população e atração de parcerias com a iniciativa privada. Com acesso universal, então a música poderá falar todas as línguas.