O legado da cultura do funk para o processo de identidade brasileira.

No final dos anos 80, popularizou-se nas periferias cariocas um ritmo que surgiu das inovações dos negros norte-americanos alicerçado no Jazz e no Soul, no qual, posteriormente, foi nomeado funk e adaptado por Dj’s brasileiros. Nesse contexto, no Brasil hodierno, tal gênero musical lida com as consequências de um processo de marginalização. Todavia, o funk se impôs como expressão cultural de resistência, se tornando um estilo fundamental na construção identitária brasileira. 

A priori, é válido ressaltar que, tal como o samba em décadas anteriores, o funk sofreu repressões, sendo elas tentativas de enquadrar o gênero como crime relacionando-o com o tráfico e imposições de sanções administrativas aos bailes, de conformidade com a criminalização do samba no século passado, no qual se um cidadão fosse flagrado com instrumentos que remetessem a esse estilo poderia ser preso. Ademais, nota-se que a marginalização de tal ritmo, deu-se sob um viés segregacionista, ao passo que a origem periférica e culturalmente negra do gênero gerou uma desmoralização de sua manifestação pela elite dominante. No entanto, mesmo com todo o preconceito, o funk se popularizou e contemplou todo o território brasileiro.  

Em segundo plano, é vultoso salientar que o funk atua como um mobilizador social devido à mudança na qualidade de vida proporcionada pelo capital gerado pela música. Outrossim, o funk se revelou como cultura de resistência periférica inserindo os chamados “Mc’s” ou “funkeiros” na indústria fonográfica e na mídia geral, gerando maior visibilidade à comunidade. Por conseguinte, a receptividade desse estilo musical foi crescente ao longo dos anos, se tornando, atualmente, o segundo gênero mais ouvido no Brasil, como constataram pesquisas do serviço de streaming de música “Spotify“.  

Portanto, conforme o exposto, entende-se a importância da afirmação do funk como cultura popular do país, visto que, assim como o samba, esse estilo resistiu as tentativas opressivas e se tornou um elemento fundamental na configuração da identidade musical brasileira. Dessa forma, o Estado, por meio do Poder Legislativo, deve propor leis que assegurem e protejam esse estilo, identificando-o como manifestação cultural e vetando qualquer ataque à sua livre expressão. Além disso, cabe ao Ministério da Educação a promoção de eventos culturais nas escolas, por meio de oficinas musicais, as quais tenham como base os fundamentos do funk, além da inclusão da história do funk e seu impacto cultural como um tópico essencial na disciplina de sociologia. Somente assim a Carta Magna, promulgada em 1988, na qual assegura que todas as manifestações culturais brasileiras devem ser reconhecidas, será plenamente respeitada. 

Obs: Minha nota foi 900 no Descomplica, quero saber a opinião de outros corretores.