o combate ao tráfico de pessoas no brasil

No livro “Belle”, da autora inglesa Lesley Pearse, há o relato de vida da protagonista que dá nome à obra: uma jovem que aos 15 anos foi vendida a um bordel em Nova Orleans depois de presenciar um assassinato. A pesar de ser uma estória, o livro narra uma experiência vivida por muitas pessoas ainda hoje- a de terem sua autonomia cessada para atender, à força, as ambições de terceiros. O tráfico de seres humanos é uma realidade no Brasil, tendo em vista que, segundo dados do Ministério da Justiça, quase 2 mil brasileiros foram traficados desde do ano 2000.  Um dos vários empecilhos para a superação dessa realidade é a desigualdade social, que torna pessoas vulneráveis em mais indefesas ainda. 

A sociedade atual é marcada pela ausência do princípio kantiano de tratar as pessoas como fins em si mesmas, não como meios para um fim. Isto é, existem indivíduos dispostos a utilizar outras pessoas como meios para obterem lucro, como ao vender uma pessoa como uma propiedade. Não há um perfil único de vítimas, mas existem pessoas que são vistas como alvos mais fáceis de serem atraídos, como as jovens periféricas. No Brasil, ocorre uma sexualização muito precoce de meninas, e isso se observa, principalmente, em áreas de maior carência social. Por esse motivo, e pelo fato de muitas dela já serem envolvidas com a prostituição, criminosos envolvidos em exploração sexual propõe empregos a elas que, na verdade, são apenas uma forma de ludibria-las. Na novela “Salve Jorge”, transmitida em 2012, a personagem Morena é chamada para modelar no exterior e vê nisso uma oportunidade de ter uma vida melhor, no entanto, foi levada à Turquia para se prostituir. Na vida real, casos como esse são comuns e, infelizmente, poucas conseguem retornar para casa e obter justiça. Em situações onde mulheres marginalizadas são as vítimas, a comoção midiática é menor, portanto, torna-se mais difícil uma operação eficiente que resgatem essas mulheres e que punam os envolvidos. 

Ademais, um fator agravante são as formas modernas de se atrair potenciais vítimas. O meio virtual se tornou propício para observar a vida das pessoas e tentar fazer parte dela. Com isso, pais de crianças e adolescentes deveriam estar mais atentos ao que os filhos fazem em suas redes sociais, contudo, pais que possuem empregos com alta carga horária e maior demanda de esforço físico, normalmente, não possuem condições de acompanharem integralmente as atividades virtuais de seus dependentes. Além disso, pais menos favorecidos economicamente são os menos envolvidos com tecnologia, podendo, por isso, não saber identificar possíveis ameaças do mundo digital.  

Portanto, percebe-se que o combate ao tráfico humano também envolve resolver ou amenizar problemas sociais estruturais. Para isso, o Governo Federal precisa melhor a qualidade de vida dos cidadãos, dando ao jovem mais suporte para seu ingresso no mercado de trabalho, melhorando a educação básica e oferecendo, junto ao ensino médio, uma educação técnica. Além de promover adultos e idosos no meio digital por meio de cursos de informática e ofertando palestras que alertem sobre os perigos da “internet”. Para tornar a vivência dos jovens mais segura, dando-lhes os recursos necessários para rejeitarem propostas perigosas e para que seus responsáveis saibam estar mais presentes. Somente assim, as “Belles” da realidade deixarão de existir.