Negacionismo científico: o ceticismo potencialmente fatal

Desde o Egito Antigo, uma das sociedades mais desenvolvidas da antiguidade, a ciência é vista como um mistério. As evoluções científicas da época, como cirurgias e próteses, eram vistas como magia ou até mesmo bênção divina por cidadãos leigos. Consoante ao período citado, atualmente, a ciência é vista, por muitas pessoas, como algo arbitrário, em que se pode acreditar ou não. Os movimentos negacionistas atuais ilustram esse pensamento, que é, majoritariamente, nocivo à saúde pública. Entretanto, tais linhas ideológicas não nascem de ambientes onde o acesso à informação é homogêneo e democratizado, portanto, a maneira como a ciência é apresentada à sociedade pode ter parte na construção dessas convicções.

Os avanços científicos se apresentam cada vez maiores e mais impressionantes, porém, a falta de acessibilidade e de real compreensão à respeito da gnose faz com que a sociedade comum não desenvolva afinidade, nem confiança para com a ciência, o que dá abertura para o crescimento de correntes de pensamentos negacionistas, infundados e de rápida disseminação, exemplo disso é o atual movimento antivacina. A OMS aponta que este movimento, se em grande escala, pode ser considerado tão perigoso quanto os vírus e doenças propriamente ditos.

Pode-se observar que, quando se fala em ciência, não se pode associá-la à grandes manchetes populares ou a um tópico propriamente discutido entre todas as classes sociais com facilidade. O público-alvo sendo delimitado à uma pequena parcela da população torna da ciência algo elitizado e, à primeira vista, inalcançável para a sociedade geral, mesmo na chamada era da informação. A linguagem dos artigos científicos ainda é, em sua maioria, acadêmica e densa, cientistas não são celebridades com rostos mundialmente conhecidos como cantores e prêmios científicos não são vistos como Copas do Mundo. A ciência é vista como nada mais que um universo distante. Nessas circunstâncias não há defesa automática no cérebro de um cidadão comum para argumentos, apelativos e feitos de maneira manipuladora, contrários à ciência. No meio educacional a matéria é apresentada de maneira mandatória e sem tato para a juventude, a qual a vê, geralmente, como nada mais que uma obrigação à qual são forçados a aprender, e segundo o pensamento de Platão, o conhecimento imposto à força não pode permanecer na alma por muito tempo.

Para que correntes negacionistas e suas consequências não tenham espaço em uma sociedade futura, é necessário, por meio de incentivos governamentais e midiáticos que a ciência seja valorizada e democratizada, com programas socioeducativos em comunidades de todas as classes sociais, que a tragam para o meio comum em uma tradução acessível para todos, independente de idade, grau de escolaridade ou qualquer outro fator. É vital, também, que professores passem por minicursos oferecidos por parcerias entre a UNESCO e as regionais de ensino estaduais, para que apresentem a ciência desde a iniciação escolar com uma linguagem mais abrangente e interessante. Uma população informada e interessada, com seu próprio senso crítico formado desde cedo, será, definitivamente, menos propensa a tais ameaças.