DESGUALDADE RACIAL E MEDIDAS DE INCLUSÃO NO BRASIL

A série televisiva ‘Todo Mundo Odeia o Chris’, ambientada nos anos 80, retrata as desventuras de um jovem americano o qual é frequentemente oprimido por ser o único negro de sua conceituada escola, ‘Corleone Junior High School’. Paralelamente, pode-se associar a trama ao contexto brasileiro hodierno, visto que as políticas de inclusão, embora existentes, não têm sido efetivas para a supressão das desigualdades raciais. Nesse viés, tal panorama, acarretado por fatores históricos, acaba por promover discriminação, comumente atribuída aos indivíduos afrodescendentes.

Em primeira análise, é fato que a falta de medidas integrativas na conjuntura pós-abolicionista resultou nas desigualdades perceptíveis atualmente. Desse modo, por não terem sido concedidas oportunidades de trabalho dignas aos ex-escravos africanos, esses continuaram a ocupar postos insalubres, ao passo que as esferas de maior prestígio eram implicitamente destinadas apenas à elite colonial branca. Assim, tal herança ainda é, infelizmente, observada na modernidade. Consoante dados do Portal Brasil, mesmo com a Lei de Cotas somente 8,8% dos ingressantes no ensino superior são negros. Sendo assim, é possível afirmar que as senzalas contemporâneas são sentidas pelo descaso do corpo social que, depois de anos de exploração, pouco fazem para integrar efetivamente o negro no mercado de trabalho.

Por conseguinte, nota-se a perpetuação de preconceitos raciais, os quais afetam diretamente o cotidiano de suas vítimas. Um exemplo claro dessa grave realidade é o caso de Miguel, menino negro que caiu do 9º andar de um prédio luxuoso ao ser negligenciado pela patroa de sua mãe. Ademais, discriminações mais ‘brandas’ são percebidas na mídia brasileira, onde, nas telenovelas, os personagens marginalizados e de menor poder aquisitivo são geralmente interpretados por atores afrodescendentes. Sob esse viés, tais estereótipos prejudicam a evolução da sociedade como um todo, uma vez que, retomando crenças retrógradas, atuam na manutenção do racismo ao longo dos séculos.

Portanto, é mister que o Estado tome providências para amenizar o quadro atual. Urge que o MEC (Ministério de Educação e Cultura), por meio de verbas governamentais, promova palestras em instituições educacionais de nível fundamental e médio, trazendo histórias de revolucionários negros, como Nelson Mandela e Martin Luther King, a fim de incentivar o debate acerca da relevância de uma concreta igualdade racial e, consequentemente, mitigar a ocorrência do racismo. Somente assim, a sociedade brasileira não mais será análoga à trama de Chris Rock.