Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil (nota, por favor)

Em seu livro “Ensaio sobre a cegueira”, o escritor José Saramago descreve uma cidade fictícia, na qual as pessoas, paulatinamente, ficam cegas e selvagens. Na trama, o autor usa dessa alegoria para realizar uma crítica à falta de altruísmo, alteridade e cooperatividade da sociedade contemporânea. Ao transpor a ficção e analisar a atual conjuntura brasileira, nota-se que a obra supracitada exemplifica a realidade vivenciada no país, uma vez que os desafios para a formação educacional de surdos representam um problema sem resolução no território nacional. Nesse contexto, torna-se imprescindível analisar como a negligência governamental e a desigualdade social impulsionam tal problemática, com o intuito de solucioná-la.

Diante desse cenário, percebe-se que a inoperância governamental é um fator agravante para a perduração dos desafios para a formação educacional de surdos no Brasil. De acordo com o geógrafo Milton Santos, em seu texto “As Cidadanias Mutiladas”, a cidadania alcança a plenitude de sua eficácia quando um indivíduo do corpo civil consegue desfrutar, em sua totalidade e homogeneamente, de seus direitos. Todavia, no contexto hodierno, a passividade do Estado distancia a população de surdos dos direitos constitucionalmente garantidos, à medida que essa parcela da civilização não possui garantia à educação de qualidade. Dessa forma, enquanto a máquina pública negligenciar suas responsabilidades, esse problema prorrogará e os direitos dos deficientes auditivos continuarão a ser mutilados de forma sistemática.

Ressalta-se, ademais, que a desigualdade social potencializa esse cenário. Segundo uma postagem feita pelo blog SignumWeb, no Brasil, 2,7 milhões de pessoas são surdas e, deste dado, 7% não possui ensino superior completo e 15% não terminou o ensino médio. Diante de tal exposto, é notável que a exclusão dos deficientes auditivos da sociedade impacta diretamente no desenvolvimento acadêmico destes indivíduos. Em decorrência disso, mantém-se o quadro de ausência de ações sociais efetivas no que tange à reversão desse contexto, fragilizando, com isso, a plenitude da cidadania no país. Dessa forma, é necessário combater as desigualdades sociais, visto que é uma das causas fundamentais do problema.

Sob esse viés, evidencia-se a urgência de propostas governamentais que contornem esse revés. Portanto, cabe ao Ministério da Educação — em sua função de promotor do bem-estar social — desenvolver atividades inclusivas para os surdos, como palestras recreativas e informativas, as quais irão os instruir a como conseguir espaço no mercado de trabalho. Estas medidas serão anunciadas pelas redes sociais, como o Facebook e o WhatsApp. Tal ação terá como finalidade desenvolver a autoestima e conhecimento dessa minoria populacional, para, dessa forma, impulsioná-los a se sentirem parte integrante da sociedade acadêmica e intelectual. Assim, à luz da perspectiva de Saramago, será possível a mitigação dessa cegueira moral presente na contemporaneidade.

Nota, por favor.