Desafios no combate à pobreza menstrual no Brasil

No filme “Carrie, a estranha”, de 2013, quando a menarca da personagem Carrie ocorre no ambiente escolar, a garota tem uma reação desesperada a esse fenômeno que desconhecia e é ridicularizada pelas outras estudantes. Fora da ficção, os indivíduos com útero também vivenciam situações problemáticas durante a menstruação, visto que a pobreza menstrual é uma realidade que aflige muitos no país. Nesse sentido, a falta de condições econômicas dignas e a mentalidade social destacam-se como desafios a serem enfrentados.

A princípio, cabe ressaltar que a carência de recursos financeiros impede o acesso a itens essenciais para garantir a higiene durante o período menstrual. Sob tal perspectiva, segundo dados da ONU, cerca de 11% da população mundial vive em uma conjuntura de extrema pobreza. A partir disso, observa-se que a compra de absorventes ou coletores é inviável para essa parcela de pessoas, tendo em vista que a renda familiar, muitas vezes, é insuficiente até para atender às necessidades alimentares. Ademais, a falta de saneamento básico – empecilho comum nas residências dos desfavorecidos – piora as dificuldades enfrentadas nesse período, em que a água é indispensável. Logo, é imprescindível que o Estado forneça auxílio para impedir que aqueles que menstruam permaneçam nesse quadro degradante.

Outrossim, é preciso apontar a aversão a assuntos menstruais como um fator responsável pela pouca relevância dada ao tema. A esse respeito, de acordo com o ativista social Martin Luther King: “Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam”. Com essa abordagem, é possível realizar um paralelo com o preconceito que o corpo social tem contra esse processo biológico humano, gerando, assim, o silenciamento referenciado por Martin. Como consequência, os detentores de útero veem-se forçados a não compartilhar abertamente os obstáculos vivenciados durante a menstruação. Com base nisso, o óbice perdura em razão da negligência da sociedade.

Portanto, a fim de garantir que todos enfrentem o período menstrual com dignidade e com higiene, urge que o Ministério da Saúde ofereça produtos como absorventes, mediante a distribuição gratuita em unidades de saúde para pessoas em situação de vulnerabilidade social, além de visar as localidades rurais e isoladas com esse auxílio. Somado a isso, o direito ao saneamento básico precisa ser garantido por meio de investimentos estatais, e a menstruação deve ser abordada nas instituições de ensino do país para ser naturalizada. Somente assim, o trauma passado por Carrie será restrito às telas de cinema.