A importância da literacia familiar para a formação de valores na sociedade brasileira

Na obra “Vidas Secas”, do romancista Graciliano Ramos, os filhos do personagem Fabiano, o qual é analfabeto e sem formação escolar, são retratados como um reflexo do pai. De maneira análoga, nota-se que esse panorama repercute em muitos lares, tendo em vista a precariedade da literacia familiar na construção de valores no país. Isso porque a desigualdade social e a desestruturação da família englobam esse cenário desafiador. 

  Nesse viés, destaca-se a desigualdade social como um fator determinante para a inexistência da relação parental com a leitura. Com base nisso, cita-se a obra “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, em que foi retratada a sua dificuldade de ter tempo de qualidade com seus filhos em razão da alta jornada de trabalho. Sob essa ótica, depreende-se que a realidade dos mais pobres condiz com o que foi noticiado pela autora, uma vez que precisam compensar a má remuneração com a sobrecarga trabalhista. Sendo assim, é indiscutível que esse quadro perturbador apenas reafirma a impossibilidade de uma nação amparada em discrepâncias sociais de promover a literacia familiar. 

   Ademais, é imperioso salientar que a desestruturação presente nas famílias colabora para a continuação desse impasse. Tal fato pode ser comprovado quando se observa que na Era Tecnológica, a distração de muitos pais em aparelhos telefônicos propicia o distanciamento de seus filhos e faz com que momentos importantes, como a alfabetização infantil, sejam colocados em segundo plano. Posto isso, alude-se ao sociólogo Zygmunt Bauman, o qual postula que as relações são pautadas na liquidez marcada pela superficialidade. Diante do exposto, a ideia proposta pelo estudioso legitima, lamentavelmente, o panorama de descaso e de desinteresse na conexão real dentro dos lares no processo da leitura. 

  Portanto, faz-se necessário que a literacia familiar na construção de valores seja viabilizada no território nacional. Para que isso ocorra, o Ministério da Educação, deve criar um projeto, com o apoio das escolas, por meio da inserção de campanhas nas comunidades, que convoquem os pais dos alunos para rodas de conversas para discutir sobre o envolvimento dos responsáveis com as crianças, com o fito de desenvolver a alfabetização de forma eficaz e apoiada em assistência à família. Outrossim, as mídias devem noticiar os prejuízos da superficialidade afetiva na vida infantil, com a finalidade de conscientizar de modo a reverter o atual conjuntura. Feito isso, o horizonte de “Vidas Secas” ficará restrito à ficção.