A era da solidão acompanhada: o cibersolitário

O ser humano, desde seu início, desenvolve suas capacidades não apenas para sobrevivência, mas também para a comunicação e linguagem. As configurações dos relacionamentos interpessoais evoluem conforme as gerações passam. Das pessoas sentadas lado-a-lado lendo jornais e livros diferentes, sem contato algum, chegando até o que se conhece hoje: mensagens e publicações a serem curtidas e comentadas.

É certo que o ser humano é um ser sociável, mas quando evoluí-se nossas tecnologias para comunicação e as carregamos no bolso a todo momento, as relações mudam de configuração, não necessariamente deixamos de ser sociáveis, apenas mudamos a forma. O amigo distante agora está a toques de distância, por exemplo. A preocupação se dá quando a atenção na notificação da tela virtual consegue transportar as pessoas do momento presente da realidade para um ponto virtual, onde supostamente ela estaria mais feliz.

Com a pandemia do COVID-19 obrigando todos ao isolamento social pelo mundo, percebeu-se que existem diversos tipos de pessoas: aquelas que precisam de um carinho e atenção real, toque físico e presença na realidade, enquanto outras apenas precisam de mensagens de texto, fotos e chamadas de voz e vídeo. O que culminou em diversas publicidades de empresas grandes, como Mc Donalds, Burger King, Boticário e Natura, comunicando como a distância pode aproximar também.

Da onde parte o sentimento de solidão? E por que se entende essa distância como algo ruim? Enquanto sociedade, o ser humano tende a padronizar tudo que conhece, desde corpos até relações. O que foge a essa norma é tido como errado e prejudicial, porém existem diversos tipos de pessoas e necessidades, a solidão física pode ser muito boa para alguns e muito prejudicial para outros, seja em doses extremas ou variadas, o que prejudica o ser é a relação da expectativa versus realidade.

Além do diferente, o que muitas vezes assusta o indivíduo é entrar em contato consigo mesmo. A autorreflexão. Faz-se necessário então que busquemos sempre nos conhecermos mais, procuremos ajuda especializada de psicólogos e psiquiatras e entendamos o que procuramos de fato no virtual e o que esperamos do real. A tecnologia deve ser ferramenta, não vício. Todo vício é autodestrutivo e deve ser analisado e cuidado, mas não podemos tender ao extremo oposto de rejeitar todo e qualquer tipo de nova configuração de relacionamento e tecnologia.