A disseminação da violência urbana no Brasil

O livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, descreve a vitória do Exército Brasileiro sobre a comunidade de Canudos, localizada no interior da Bahia. Dentre outras características, a importância desta obra também se configura na contemplação, pelo autor, de um Brasil profundo, focalizando o olhar sobre regiões para além dos grandes centros do país. Atualmente, a mesma lógica deve persistir, observando, porém, o movimento centrífugo dos índices de violência urbana. Assim, são necessárias medidas que busquem a resolução desta problemática.
Em primeiro lugar, é válido entender o processo de organização demográfica das cidades brasileiras. Durante o governo Vargas e a Ditadura Militar, houve uma forte e constante migração em sentido às regiões mais industrializadas do país, a saber o Sul e Sudeste. Esse fenômeno contribuiu, dentre outros efeitos, para a periferização desses centros e, consequentemente, para os altos números de violência. Desse modo, apreende-se que, por conta da falta de um planejamento urbano adequado, esses índices foram e são disseminados.
Em segundo lugar, agora observando a distribuição dessa violência pelo interior do país, cabe compreender dois dos fatores que possibilitaram essa problemática. O primeiro deles, o desenvolvimento socioeconômico de regiões interioranas durante as décadas de 1990 e de 2000, funciona, para além do progresso humano, como atrativo para criminosos que antes se estabeleciam nos grandes centros; já o segundo fator, a migração de retorno, corresponde a uma consequência do primeiro, em que há um refluxo da migração outrora vista durante o século XX, além de carregar consigo o processo de perifização visto nas principais cidades.
Fica claro, portanto, que a disseminação da violência urbana no país é possibilitada por fatores econômicos e sociais. Assim, é preciso que o Estado, a saber o Ministério da Justiça e Segurança Pública, direcione reforços, como agentes e equipamentos qualificados, a essas regiões, a fim de aumentar o policiamento e, dessa maneira, evitar aumento nos casos de violência. Nesse sentido, espera-se que o governo seja capaz de, assim como Euclides da Cunha, observar o Brasil profundo e entender suas necessidades quanto ao tema analisado.