[protected]O Editorial é um gênero argumentativo cujo propósito é expressar a opinião do jornal ou da revista sobre um fato importante do cenário nacional ou internacional. As opiniões expressas em editoriais devem ser sustentadas por argumentos baseados em fatos comprovados, apresentando uma visão objetiva do assunto discutido.
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Geralmente, o público leitor desse gênero discursivo é constituído por pessoas que buscam, além das notícias, textos analíticos e argumentativos dos fatos que estão noticiados no jornal. Esses leitores procuram saber o ponto de vista do jornal ou confirmar o seu a respeito do assunto tratado no Editorial.
Quanto a sua composição estrutural, esta é bem simples:
[box]INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO e CONCLUSÃO.[/box]
Esta é a estrutura básica da dissertação que você aprendeu a fazer na escola, já que este gênero é constituído, predominantemente, por [tooltip text=”Sequências argumentativas são formadas por dados, constatação e sequências de raciocínio lógico”]sequências argumentativas[/tooltip]. Porém o editorial, diferente da dissertação, tem uma função social fora do ambiente escolar.
Selecionamos para vocês três editoriais que poderão ajudá-los a compreender melhor as características desse gênero e a fazer uma ótima redação!
Os editorias foram selecionados do jornal Folha de São Paulo.
Lixo e lentidão
Foi preciso esperar seis anos -perdidos entre dúvidas jurídicas, negociações de preços e rivalidades políticas- para que finalmente as favelas de São Paulo passem a contar com um serviço básico: o da coleta de lixo.
Um contrato firmado em 2004 entre a gestão Marta Suplicy (PT) e duas empresas previa a realização de coletas nas favelas. Suspeitando dos valores envolvidos, José Serra (PSDB) cortou parte dos pagamentos ao assumir a prefeitura.
Posteriormente, um estudo técnico feito pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) considerou que não havia superfaturamento nos preços originais.
Em 2007, já na gestão Gilberto Kassab, o município concordou em pagar às empresas o montante que lhes recusara. Enquanto isso, os valores do contrato original tiveram de ser reajustados.
Discute-se agora, no plano jurídico, se deve haver reajuste sobre os pagamentos que a prefeitura deixara em atraso. Enquanto a dúvida não é dirimida, chegou-se pelo menos a uma solução de compromisso.
Como os caminhões de lixo dificilmente podem transitar pelas ruas estreitas, contêineres gigantes de coleta serão instalados em alguns pontos; o projeto será implantado, experimentalmente, numa comunidade do Butantã.
Tantos anos de lentidão e impasse tornam a atuação do poder público municipal comparável, no caso, a um desses paquidérmicos caminhões de lixo que tentam precariamente se deslocar pelo labirinto urbano.
O atraso não se limita ao problema específico do lixo nas favelas. Após décadas de estagnação econômica, e havendo sinais claros de diminuição no fluxo migratório e no crescimento populacional em São Paulo, passa da hora de se empreender um projeto amplo de urbanização das favelas da capital.
De forma desorganizada, substituíram-se os antigos barracos de madeira por construções de alvenaria, por vezes elevando-se a mais de dois andares.
Títulos de propriedade precários, falta de infraestrutura adequada, arruamento praticamente inexistente, ausência de áreas verdes, de transporte, de salubridade e de segurança são problemas que, todavia, persistem nas favelas da cidade.
Um contêiner especial poderia ser idealizado a fim de guardar todos os planos e promessas já feitos para sanar esse tipo de problema. A julgar pelo caso do lixo, é de perguntar quantas décadas serão necessárias para a prefeitura começar a enfrentá-lo de fato.
Comissão da Verdade
Investigação sobre os crimes ocorridos na ditadura vai além do que pode pretender um colegiado oficial tal como prevê o atual projeto de lei
Os que desconhecem o passado histórico, diz um adágio conhecido, estão condenados a repeti-lo.
É direito inquestionável dos brasileiros tomar conhecimento, em seu pleno detalhe, das violações dos direitos humanos que marcaram o período do regime militar.
Cerca de 40 anos se passaram desde o auge da repressão política. A Lei da Anistia, estabelecendo as condições irrevogáveis de um processo de transição sem traumas para a democracia, assegura que se possa tratar do tema com sobriedade e equidistância.
Aprovando a lei que institui a chamada Comissão da Verdade, a Câmara dos Deputados procurou atender às demandas, mais do que justas, por uma investigação histórica em profundidade dos abusos cometidos durante a ditadura.
Na tentativa de deixar menos marcado o seu teor político, estendeu-se para o período de 1946-1988 o âmbito das pesquisas a serem empreendidas pela comissão.
Fruto, como se vê por esse detalhe, de um delicado acordo entre as forças presentes na Câmara, nem por isso o projeto deixa de suscitar dúvidas e questionamentos.
Há muito de pretensioso e indevido, por exemplo, na própria denominação do colegiado que se irá instituir. Não cabe a um organismo indicado pelo Executivo, por mais imparcial que seja sua composição, estabelecer “a Verdade”, com “V” maiúsculo, neste ou em qualquer assunto que seja.
Mesmo no campo das ciências naturais, onde em tese os interesses e paixões políticas não preponderam, não há como conceber verdades definitivas. A descoberta de novas evidências e circunstâncias é um processo contínuo em qualquer área do conhecimento.
É irrealista supor que, no exíguo prazo de dois anos, uma comissão de 7 membros e 14 auxiliares, como estabelece o projeto, venha a levantar todos os casos de violação aos direitos humanos.
No pressuposto de que se poderá atingir algum tipo de “verdade oficial”, cogita-se de nomear para a comissão personalidades idôneas, algumas delas escolhidas no próprio campo da oposição.
Em que medida, todavia, estariam contemplados representantes e defensores do próprio regime militar? Sua presença, não é exagerado supor, traria dificuldades e entraves ao trabalho da comissão. Sua ausência, por outro lado, abriria o flanco a acusações de parcialidade nas investigações.
A Comissão da Verdade cumpriria melhor seu papel, a rigor, se estabelecesse as condições mais amplas possíveis para o acesso dos cidadãos a documentos do período.
Investigações independentes, feitas por organizações, pesquisadores e jornalistas sem vínculos com o Estado, constituem no melhor mecanismo para se chegar mais próximo de um ideal nunca definitivo, a verdade histórica. Esta não é monopólio de nenhum colegiado oficial, por mais imparcial que seja.
A lei da Fifa
A presidente Dilma Rousseff tem acertado ao não ceder às exigências da Fifa, entidade máxima do futebol, para a realização da Copa do Mundo no Brasil, em 2014.
O mais novo motivo de disputa é a Lei Geral da Copa, que define regras para sediar o Mundial no país, como políticas de ingresso, distribuição de direitos de mídia e garantias dos patrocinadores.
A Fifa parece buscar, na prática, autonomia total para definir essas questões, como se não houvesse uma legislação nacional em vigor.
A questão dos ingressos é exemplar. O Estatuto do Idoso garante meia-entrada aos maiores de 60 anos, assim como leis estaduais preveem o desconto também para estudantes. Não há por que suspender esses direitos na Copa e deixar a definição para a Fifa.
Também vai na direção correta a decisão do governo federal de liberar até 3% do tempo dos jogos e 30 segundos dos eventos oficiais para emissoras que não detêm os direitos da Copa. Essa fatia não chega a prejudicar as empresas que pagarem pelo evento, que terão a exclusividade em sua transmissão.
Compreende-se a preocupação da Fifa, que nos últimos quatro anos ganhou cerca de US$ 4 bilhões com esse tipo de negócio. Mas deve-se buscar um equilíbrio entre o lucro das empresas, e também o da Fifa, e o acesso dos brasileiros à maior celebração do calendário mundial do futebol, que voltará ao país depois de 64 anos.
O governo já cedeu bastante à Fifa, atendendo a exigências -muitas delas razoáveis- que inflaram os custos do evento em pelo menos dezenas de milhões de reais.
A preparação para a Copa avança a passos lentos. As prometidas melhorias de infraestrutura estão em risco. A ampliação dos aeroportos será mais tímida do que se imaginava. O investimento no transporte público pouco avançou, e já se cogita decretar feriado nos dias de jogo para evitar, ou amenizar, um vexame. Até hoje, nem o governo sabe, como admite a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, quanto vai custar o evento.
Um ambiente de fragilidade institucional, com as leis do país suspensas para atender a uma entidade privada, seria um novo golpe no duvidoso legado da Copa.
A experiência bem-sucedida da Alemanha, em 2006, deve servir de exemplo para o governo brasileiro negociar com a Fifa, respeitando direitos empresariais sem, no entanto, ferir os interesses do país.
A Lei Geral da Copa será agora analisada pelo Congresso, ambiente em que lobbies e pressões costumam surtir efeito. O governo deve vetar mudanças que alterem o cerne dessa legislação.
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