Publicação de imagens trágicas: banalização do sofrimento ou forma de sensibilização?

A Revolução Técnico-Científico-Informacional, iniciada na década de 1970, possibilitou a circulação mais abrangente da informação. Hodiernamente, é possível verificar no retrato sociocultural vigente os frutos desse avanço, que culminou na facilidade da disseminação dos mais diversos materiais de mídia. Destarte, faz-se necessária a discussão acerca de seu potencial dúbio, o qual pode ser não apenas deletério, no que tange banalizar o sofrimento alheio através da transmissão de imagens trágicas, mas também benéfico ao conscientizar o público através dessas imagens.

Antes de tudo, vale ressaltar os problemas psicológicos que a constante exposição a conteúdo audiovisual chocante pode gerar. Nesse âmbito, o filme “O Abutre”, de 2014, narra a ascensão do protagonista no jornalismo noturno dos EUA e evidencia como a trivialidade da violência civil fomenta um grande mercado televisivo. Posto isto, tal mercado se sustenta pelo vício do espectador por esse tipo de temática, que não é acompanhado de nenhum valor positivo. Por fim, cria-se uma retroalimentação destrutiva que contribui para a normalização involuntária do sofrimento de outrem.

Outrossim, é de suma importância enaltecer a publicação de imagens trágicas feita de maneira correta. Nesse contexto, em 2020, devido à pandemia do novo Coronavírus, ocorreu a lotação das UTIs de hospitais no Brasil inteiro. Em vista disso, imagens expondo a triste situação de pacientes internados alcançaram a população, fazendo com que mais brasileiros seguissem as regras para diminuir o espalhamento do vírus. Logo, faz-se imperiosa a responsabilidade durante a publicação de imagens chocantes, a fim de que, assim, seu potencial benéfico possa sobrepujar o deletério.

Em suma, medidas para combater essa problemática fazem-se necessárias. Para isso, a mídia, a exemplo das redes televisivas e dos perfis em redes sociais como Facebook e Instagram, deve propagar de forma elucidativa esse tipo de imagem, assim como instruir seu público a analisar imagens trágicas não de modo vazio, mas edificante, para então conscientizá-lo de maneira saudável sobre determinado tópico. É também dever das escolas ensinar crianças a não buscar entretenimento na violência gratuita. Dessa forma, tais medidas visam esclarecer o real papel dessas imagens ao grande público, para que elas sejam consumidas e propagadas com sabedoria. Feito isso, o teatro doentio de “O Abutre” permanecerá apenas na ficção.