Pontes e muros

Segundo o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, a vontade geral deve emanar de todos para ser aplicada a todos. Analogamente, a exclusão digital dos grupos de terceira idade no Brasil é reflexo e uma juventude negligente que desassiste essa parcela da população. Nesse sentido, configura-se um cenário de calamidade na integração social do país, propondo impasses de caráter social e cultural.

A priori, conforme o princípio da coercitividade defendido pelo sociólogo Émile Durkheim, o meio social determina as condutas do indivíduo. De forma análoga, a vivência de uma realidade pautada na rapidez das relações leva, pela população jovem, a uma conduta impaciente frente à lentidão dos idosos para a adesão de novas tecnologias. Nesse contexto, os anciãos encontram-se sem o apoio da população como tutora, desprovidos de auxílio no manuseio das inovações e impossibilitados aderirem ao novo ambiente social. Dessa forma, o processo globalização fomentado na segunda metade do século XX produziu um universo excludente ao ditar ritmos acelerados nas relações interpessoais. 

Outrossim, o afastamento dos meios virtuais contribui para a  exclusão cultural de tais grupos. Nessa perspectiva, o filósofo chinês Confúcio defendia a ideia da cultura preceder a posição social de um indivíduo. Em contrapartida, frente a um contexto no qual informações e lançamentos dão-se pelo meio virtual, o analfabetismo digital desses grupos nega-os do acesso à cultura, alienando idosos frente às inovações e perpetuando um ciclo vicioso permeado por preconceitos e intolerâncias. Desse modo, a fim de garantir o bem-estar social preconizado pelo economista Keynes após a crise de 1929, é imprescindível ampliar os direitos da terceira idade de acesso à esfera digital.

Infere-se, portanto, que é necessário que o Ministério da educação difunda, nas escolas e demais instituições de ensino, a importância da inclusão dos anciãos na realidade digital, por meio da promoção de palestras com sociólogos e psicólogos que reinterem a pertinência dessa reflexão, bem como oficinas que ensinem os alunos a auxiliarem os idosos no manuseio das tecnologias, a fim cessar a negligência para com a parcela mais velha da população. Com isso, no futuro, a vontade geral preconizada por Rousseau poderá, finalmente, ser aplicada a todos, construindo pontes, e não muros, entre os diferentes grupos da sociedade brasileira.