Pichação: manifestação artística ou vandalismo?

A Semana da Arte Moderna trouxe uma nova visão ao Brasil no século XX, quebrando o antigo rigor formal e estabelecendo diferentes tendências artísticas. Porém, praticamente um século após esse acontecimento, a sociedade brasileira ainda estabelece padrões para o que pode ser arte ou não, um bom exemplo disso é a pichação. Essa, a qual se caracteriza pela expressão de palavras em muros e edifícios utilizando tinta em spray, é considerada crime no país, ignorando, assim, o real significado e intenção da pichação e desvalorizando as diferentes formas de manifestação artísticas.

A ditadura militar oprimiu diversas formas de arte e foi nesse contexto que a pichação surgiu no Brasil, como forma de protesto aos abusos sofridos e ainda hoje não perdeu seu caráter de expor a realidade. Produzido principalmente por jovens que sofrem com a desigualdade social, o pixo tem a intensão de expressar, através de palavras, a realidade ignorada pelo Estado e parte da sociedade. Preconceito, pobreza, abuso policial, falta de saúde e educação fazem parte da rotina desses indivíduos e são manifestados através das tintas, onde as construções se tornam um grande caderno de caligrafia para que todos passam ler suas narrativas.

Nesse contexto, expressar as mais diferentes ideias, pensamentos e fatos conceitua o termo manifestação artística, em que a pichação, apesar de não reconhecida, está inserida. Essa depreciação cultural se deve, principalmente, a visão etnocêntrica estabelecida sobre a sociedade brasileira, onde uma cultura é mais importante e/ou bela que a outra. Assim, a intensão e a expressão do pichador é visto apenas como crime de depredação do patrimônio público, onde poderia agregar na cultura brasileira.

Dessa forma, a pichação busca, através da arte, expor a realidade sofrida por jovens marginalizados, sendo criminalizada, entre outros fatores, pelo fato de não se encaixar nos padrões artístico conhecidos e apreciados pela maioria. Portanto, faz-se necessário que o pixo seja afirmado como arte, para isso o STF deve julgar descriminalizá-lo e o MEC, juntamente com as escolas e os centros artísticos, devem buscar que os pichadores tenham locais onde possam exercer sua arte e serem vistos, além de erradicar a visão ruim relacionada à pichação. Logo, aderindo às diferentes ideias e culturas será possível ampliar o conhecimento da nação e desenvolve-la como um todo.