Perspectivas e desafios do trabalho remoto em questão no Brasil

     O distanciamento social, medida adotada durante a pandemia da covid-19, trouxe consigo inúmeras mudanças na rotina da população mundial. Dentre essas modificações, pode-se citar a popularização do trabalho remoto e, com isso, surge a discussão sobre as perspectivas e desafios acerca da sua implantação no Brasil. Deve-se, então, analisar a contribuição tecnológica para o ambiente trabalhista, em contraste com a crescente exploração dos trabalhadores.

     Em primeiro plano, observa-se que, na sociedade atual, o avanço tecnológico possibilitou a adoção do modelo de trabalho em questão. Nesse sentido, a Revolução Industrial marcou o início das relações de trabalho modernas, tendo em vista a criação de maquinários com o intuito de substituir o trabalho manual e, consequentemente, otimizar o tempo de produção. Paralelo a isso, hodiernamente, a utilização da internet como estratégia para realizar encontros síncronos, mas sem sair do ambiente doméstico, permitiu a execução de tarefas por um menor período – em parâmetros que englobam o transporte até a empresa e, no contexto da pandemia, auxilia, também, na prevenção da doença –, o que indica benefícios na utilização do trabalho remoto. Assim, semelhante ao ocorrido na Revolução Industrial, a tecnologia modifica as relações de trabalho atuais.

     Por outro lado, é perceptível que o trabalho remoto pode contribuir com a precarização do emprego. Sob essa ótica, o livro “O precariado”, de Guy Standing, aborda a visão de que, na sociedade contemporânea, as pessoas tendem a aceitar condições de trabalho instáveis, a fim de suprir suas demandas. Baseado nessa ideia, percebe-se que o modelo de trabalho em “home office” se assemelha ao pensamento de Standing, uma vez que a aproximação entre os ambientes doméstico e empresarial auxilia na dissolução dos limites do horário de trabalho, o que pode levar a jornadas mais longas, porém sem remuneração equivalente, situação que, devido a necessidades financeiras, o funcionário é forçado a aceitar. Desse modo, é preciso atentar-se à exploração dos empregados no cenário atual.

     Diante dos fatos mencionados, evidencia-se a urgência de modificar a situação do trabalho remoto no Brasil. Portanto, é dever do Governo Federal fiscalizar esse tipo de serviço de maneira mais eficiente. Essa ação será realizada por meio da retomada do Ministério do Trabalho – que será responsável por administrar as relações trabalhistas e garantir uma remuneração justa –, e terá a finalidade de aproveitar os benefícios advindos da tecnologia e evitar a exploração dos indivíduos. Dessa maneira, o trabalho remoto poderá ser implantado de forma efetiva, mesmo após o período de pandemia.