Os desafios no combate à ansiedade na sociedade contemporânea

No desenho animado “Bob Esponja”, o personagem principal decide aprender a dirigir e para isso entra na autoescola. Na trama, Bob possui um desempenho excelente nas aulas teóricas, mas quando finalmente vai para prática não consegue, pois fica muito ansioso e entra em crise de pânico. Não distante da ficção, vê-se no Brasil hodierno um cenário similar no qual milhares de indivíduos enfrentam desafios no combate à ansiedade que, por vezes, os mobiliza e os leva a limitações como as vividas pelo personagem. Tal fato aponta que é necessário debater sobre o tabu relacionado ao uso de medicamentos e a respeito da postura omissa do Estado, o que demanda ação pontual. 

A princípio, evidencia-se que a existência de um tabu social relativo ao uso de medicamentos para o tratamento da ansiedade revela-se como um dos principais desafios enfrentados. Nesse contexto, torna-se relevante o discurso do filósofo francês Foucault, o qual chama atenção para o uso do conceito de normalidade como forma de controle social. Assim, aqueles cujos comportamentos subvertem o padrão tido como normal são expostos a tabus, os quais influem diretamente nas atitudes do coletivo, que passa a enxergar os medicamentos como algo desnecessário, pois mistificam a ansiedade como frescura, drama ou falta de Deus, tratando-a como desimportante. Consequentemente, esse preconceito acaba por gerar má qualidade de vida aos enfermos, já que, quando não medicados, dificilmente superam esse conjunto de distúrbios tão assíduos no tecido social. 

Outrossim, observa-se que a postura omissa do Estado diante da problemática também é fator agravante da questão. Acerca disso, uma pesquisa recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que o Brasil lidera o ranking mundial dos países com maior número de pessoas ansiosas: são cerca de 18,6 milhões de brasileiros convivendo com o transtorno. Desse modo, torna-se notória a negligência do Estado em prover recursos e tratamentos, pois à medida que os números cresciam o quadro não foi revertido. Logo, se o emblema não for mitigado, o Brasil permanecerá como líder de tal ranking e a população continuará sofrendo as consequências nocivas desse transtorno. 

Em suma, são necessárias ações interventivas que atenuem os desafios no combate à ansiedade. Para tanto, cabe ao Estado junto ao Ministério da Saúde elaborar um programa de assistência presencial e virtual, que fará um acompanhamento periódico com os pacientes, além de direcionar recursos e medicamentos gratuitos. Ademais, caberá a mídia incentivar, por meio de campanhas publicitárias em plataformas de vasto acesso, o senso crítico do indivíduo, a fim de romper o tabu instaurado e promover maior engajamento social nos tratamentos. Dessa forma, será possível que casos como o de Bob Esponja sejam incomuns na contemporaneidade.