Os desafios da escolha profissional para o jovem brasileiro hoje.

No filme “O Doador de Memórias”, é retratada uma sociedade distópica, em que os indivíduos, quando atingem a maioridade são inseridos em uma profissão, sem que haja dificuldades e processos seletivo para adentrar no mercado de trabalho. Nesse contexto, os adolescentes não precisam perder tempo em escolher suas profissões, em virtude de que seu sucesso já está traçado. Fora da ficção, entretanto, tal contextualização diverge da realidade brasileira, em virtude de que os jovens brasileiros encontram-se, hodiernamente, com dificuldades na escolha de uma profissão. Isso ocorre tanto pela negligência do núcleo familiar quanto pele exigência do mercado de trabalho.

Em primeira análise, é de suma importância destacar que o núcleo familiar é um fator protagonista para a continuidade desse impasse. Sob esse viés, de acordo com Jean Piaget, um dos maiores pensadores do século XX, a construção da identidade humana e seus valores morais são construídos a partir da interação do sujeito com os diversos ambientes sociais, como, por exemplo, o espaço familiar. Nesse sentido, os jovens desde seu período infantil são influenciados a optarem por uma profissão que já foi predeterminada por seus parentes, em virtude não somente pelas expectativas ditas e não ditas destes para o futuro dos filhos, porém pelo contexto familiar no qual ele encontra-se inserido. Dessa forma, observa-se que os parentes tornam-se uma imposição irresponsável na escolha profissional.

Outrossim, vale salientar como o mercado de trabalho dificulta a inserção de jovens em uma profissão. Isso porque, segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, a modernidade líquida é caracterizada pela insegurança e constante mudança no cenário social, em virtude de que as empresas exigem cada vez mais a especialização profissional para o exercício de um cargo, uma vez que estão substituindo a mão de obra fixa por contratos temporários. Sob essa óptica, os indivíduos serão inseridos no mercado de trabalho sem ter noção de que profissão seguir, uma vez que optam por trabalhos temporários pela necessidade de obtenção de lucro. Logo, esses tomam a decisão errada por precisarem escolher precocemente, por consequência não conseguem mudar de profissão em decorrência do necrófago mercado de trabalho.

Infere-se, portanto, que são necessárias medidas para atenuar o impasse. Para tanto, o Ministério da Educação, em parceria com a mídia, deve proporcionar aos jovens uma experiência real de mercado de trabalho, por meio de oficinas práticas nas diferentes área de profissionalização, a fim dos jovens tirarem dúvidas sobre as diferentes carreiras e o mercado de trabalho com acadêmicos, professores e coordenadores de cursos e,assim, obterem noção da função de cada profissional. Além disso, as escolas devem orientar e auxiliar os alunos na escolha da futura profissão, por intermédio da orientação profissional, com a participação de especialistas, que debatam acerca do tema, com o objetivo de ajudar o jovem a fazer uma escolha mais prudente de acordo com suas especialidades.