Origens e soluções para o problema dos relacionamentos abusivos na sociedade brasileira

Na série “Thirteen reasons why”, da Netflix, é retratada a vida de alguns adolescentes, estudantes de uma escola secundária localizada em uma pequena cidade do interior dos EUA. Ao longo da última temporada, a narrativa revela o drama da relação entre Mendy e o seu namorado Jason, o qual pratica abusos físicos e psíquicos contra ela sem a intervenção de ninguém, nem mesmo do xerife e de outras autoridades policiais. Fora da ficção, fica claro que a realidade apresentada na série pode ser relacionada àquela do Brasil: milhões de pessoas sofrem com relacionamentos violentos e criminosos por causa da negligência estatal e, principalmente, da cultura patriarcal.

Em primeiro lugar, é importante destacar que a falta de eficiência dos governantes em lidar com o problema dos envolvimentos conturbados e abusivos entre os indivíduos da sociedade levanta tal impasse. O escritor e jornalista Gilberto Dimenstein, em sua obra mais famosa, “O cidadão de papel”, descreve que os direitos pavoneados constantemente pela mídia e pelas elites nos grandes meios de comunicação não passam de letras escritas em um papel. Ao fazer um paralelo com a problemática analisada, percebe-se que o Estado deixa de cumprir a sua função de defesa da Constituição de 1988 ao excluir dos direitos presentes nela as crianças e mulheres vitimadas pelos relacionamentos tóxicos.

Além das questões jurídicas, há a cultura patriarcal espalhada pelo tecido social vigente como o fator preponderante na existência desse tipo de relação, a qual transgrede a dignidade humana. Sérgio Buarque de Holanda, sociólogo brasileiro, no livro “Raízes do Brasil”, descreve a formação do povo tupiniquim e sinaliza para um desenvolvimento cultural no qual sempre houve a opressão de uns sobre outros. Isso é ressaltado ao se constatar que mais de 60% da população no século XIX era formada por escravos, os quais eram oprimidos pelos descendentes de europeus. Ademais, o patriarcalismo é uma marca registrada. Esse conjunto de elementos desencadeia os atuais conflitos entre as pessoas.

Dessarte, é mister que sejam tomadas providências para amenizar o quadro atual. Para reprimir crimes passionais e diminuir os abusos nos relacionamentos a curto prazo, urge que o Ministério da Justiça e da Segurança Pública implemente, mediante parcerias com as forças policiais regionais, operações que investiguem e apliquem a lei nos casos de violência doméstica. Não só, o Ministério da Educação e da Cultura deve direcionar verbas para escolas e universidades locais, a fito de que essas instituições produzam peças publicitárias para conscientizar o povo a respeito das denúncias contra os abusadores. Somente assim, será possível saírmos do papel.