O uso exacerbado de psicotrópicos

De acordo com Byung-Chul Han, filósofo e ensaísta sul-coreano, a estrutura basilar das sociedades ocidentais e ocidentalizadas caracteriza-se principalmente por sua ênfase no desempenho. Em resumo, dentro dos moldes capitalistas de sociedade, o objetivo que se eleva acima de todos os demais é o sucesso. Este paradigma perpetua-se de modo a generalizar um estado de perpétua ansiedade social, levando muitas vezes à depressão e, consequentemente, ao uso de entorpecentes de todos os tipos no intuito de escapar do vazio que se forma em uma realidade privada de substância.

A insegurança permanente que norteia os círculos sociais, promovendo transtornos de ordem psicológica e predispondo o aumento de adictos é um fenômeno diagnosticado por Zygmunt Bauman, sociólogo polonês e grande crítico do que chama, em seus termos, de “sociedade líquida”. Para ele, o caráter consumista do capitalismo chegou ao ponto de transformar o próprio ser humano em mercadoria, despindo-o de suas características singulares e o coisificando à medida que o toma por ferramenta de fácil substituição. Estudos recentes, realizados em países desenvolvidos como o Estados Unidos, apontam o aumento nos números de depressão e suicídio, assim como sua correlação com o uso de determinados psicotrópicos.

Guy DeBord, filósofo francês de pensamento alinhado ao marxismo, via a modernidade como um grande espetáculo que se dividia em difuso e concentrado. Para além das grandes ditaduras de sua época, constituintes do espetáculo concentrado, havia o espetáculo ocidental de plena difusão, onde a normalidade se mantém soberana através da exploração de natureza mercadológica, excessivamente consumista e fetichista. Assim sendo, o indivíduo vê-se destituído de seu valor intrínseco, servindo de marionete para uma máquina que cresce por trás de uma fachada de liberdade.

Em conclusão, para que o problema seja resolvido, não se pode ter a droga em si como o principal objeto de oposição. O mecanismo engatilhador, responsável primário e principal da busca pela saciedade escapista proporcionada pelas drogas, está fundamentalmente ligado à estrutura mesma da sociedade capitalista de competição massificada e valoração mercadológica das vidas humanas. Tendo em vista a impossibilidade de alterar-se toda uma superestrutura social em pouco tempo, o ideal é que se busque maior foco no tratamento e na prevenção de transtornos psicológicos, alinhados a uma orientação contrária às drogas que explicite as causas patológicas, de vazio interior e constante pressão exterior, que levam o indivíduo a desejar fugir do mundo através de sua autodestruição.