O legado da escravidão e o preconceito contra negros no Brasil

Brás Cubas, defunto-autor de Machado de Assis diz em “Memórias Póstumas” que não teria filhos a fim de não transmitir o legado da miséria humana. De maneira análoga, os negros representam 53% da população do Brasil, no entanto, são uma minoria social onde poucos ocupam espaços de poder devido ao legado da escravidão proveniente do preconceito racial. Nessa perspectiva, pontua-se a negligência governamental e à má formação socioeducacional desses indivíduos – oriunda desigualdade social presente na sociedade brasileira- como fatores que atenuam essa problemática.

Em primeira análise, é valido ressaltar que de acordo com a Constituição Federal do Brasil, promulgada no ano de 1988, todo cidadão brasileiro possui direitos sociais e individuais, junto à igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. No entanto, percebe-se a ocorrência da “cidadania de papel”, termo cunhado pelo escritor paulista Gilberto Dimenstein, que diz respeito à existência de direitos na teoria os quais não ocorrem, de fato, na prática. Segundo dados divulgados pelo G1, 4 a cada 5 pessoas que morrem por arma de fogo, são negras. Isso está atrelado ao estereótipo de negro ladrão, que está embutido, de forma sutil, no preconceito estrutural que permeia a população. Dessa forma, é inadmissível que a sociedade aceite a displicência estatal diante desse cenário que urge por mudança.

Ademais, é importante frisar que a estrutura da sociedade brasileira, tem – como uma das consequências “modernas” – a gentrificação, isto é, o afastamento dos indivíduos com baixo poder aquisitivo dos grandes centros urbanos, o que os deixa ainda mais distantes da infraestrutura social destinada à educação, tal fato exemplifica o caso dos negros no Brasil, que após a abolição da escravatura em 1888 tiveram que recorrer as periferias das cidades. Segundo os iluministas Diderot e D’Alembert, autores da “Enciclopédia”, a democratização da educação é fundamental no combate à alienação dos cidadãos, garantindo aos mesmos sua efetiva liberdade. No entanto, essa ótica não se atribui ao Brasil, uma vez que as áreas centrais são dotadas de privilégios com acesso à educação -de qualidade- e que é de exclusividade para aqueles que têm altas rendas.  Em contrapartida, nas periferias e nas áreas menos valorizadas a educação de qualidade é extremamente baixa. Esse cenário é claramente refletido na baixa quantidade de negros que conseguem ascender socialmente e que ocupam espaços de poder.

Infere-se que ainda há entraves para garantir a solidificação de políticas que visem à construção de um mundo melhor. A fim de formar uma sociedade igualitária e que o legado da escravidão seja solucionado no Brasil, coage que o Poder Executivo Federal, além de superar desigualdades históricas, deve desenvolver projetos do governo que informem a sociedade sobre a importância de agir para garantir a igualdade dos cidadãos brasileiros. Essa medida deve ser realizada por meio de debates oferecidos por profissionais que estudam dados estatísticos sobre o problema, garantindo o convencimento social. Com a realização dessa medida, poder-se-á criar um legado do qual Brás Cubas pudesse se orgulhar.