O excesso de tecnologia na infância na era da cibercultura

Em um dos episódios da série “Black Mirror”, disponível na Netflix, é retratado um futuro tecnológico, em que as pessoas possuem apenas relações artificiais por meio da internet, sem a socialização humana necessária. Fora da ficção, é notório um paralelo com a realidade da cibercultura, em que muitos indivíduos, em especial as crianças, vivem em um cenário de excesso de tecnologia, que apesar de alguns benefícios, as impede de desenvolver certas habilidades e relações sociais essenciais para o seu desenvolvimento. Assim, é imperiosa a análise dos fatores que agravam esse quadro, o qual é motivado pela normalização do excesso de tecnologia e acarreta no amplo acesso à desinformação.

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que o excesso e vício nas novas tecnologias está sendo normalizado pelos cidadãos. Nesse sentido, o filósofo Michel Foucault, a partir do conceito de “Normalização”, definiu que há na sociedade a repetição de comportamentos sem a devida reflexão crítica. Sob essa ótica, a visão do autor pode se encaixar no atual contexto, em que os responsáveis das crianças consideram comum uma infância rodeada de tecnologias, as quais dificultam o desenvolvimento dos princípios de socialização, empatia e respeito na infância, características essenciais para o aprendizado. Desse modo, crianças sem certas experiências que deveriam ter sido vividas na infância têm seu futuro prejudicado no âmbito acadêmico e social.

Por conseguinte, o amplo acesso a tecnologia permite o maior contato com informações falsas. Tendo em vista isso, segundo o site da Globo, mais de 70% dos brasileiros com acesso a internet já acreditaram em desinformações. Nesse sentido, crianças com acesso ao mundo virtual  ainda não possuem capacidade crítica para distinguir o certo do errado, deixando as vulneráveis para manipulação e persuasão que as “fake news” são responsáveis. Dessa forma, o acesso precoce à desinformação impossibilita o caminho em direção a uma boa educação, necessária para o progresso da nação.

Portanto, medidas são necessárias para resolução desse impasse. É dever do Ministério da Educação, por meio da implementação de palestras e rodas de conversas, garantir a socialização necessária para uma infância saudável das crianças, para que não haja a intermediação da tecnologia e suas desinformações no aprendizado. Junto disso, cabe à Mídia, por via de propagandas, garantir a conscientização dos cidadãos sobre os perigos do excesso de tecnologia e como evitá-los, a fim de que a sociedade siga em progresso e se distancia da série “Black Mirror”.