O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira

A caixa de Pandora, na mitologia grega, foi aberta imprudentemente, fazendo com que todos os males fossem libertados. Todavia, a esperança manteve-se aprisionada e tornou-se o único conteúdo presente nesse recipiente. Essa alegoria pode ser comparada à postura de alguns setores da sociedade brasileira, já que a imprudência desses também tem “libertado” problemáticas, como o estigma associado às doenças mentais. Nesse ângulo, é imprescindível analisar ações das esferas políticas e socias no país.

Antes de tudo, é fato que o Poder Público se apresenta inerte perante o estigma associado às doenças mentais. Nesse viés, observa-se que existe uma deficiência no processo de conscientização das pessoas, visto que falta divulgar informações acerca da importância de se reconhecer e destruir estereótipos presentes sobre as doenças mentais, como, por exemplo, a não aceitação da depressão como algo sério, o que prejudica a saúde humana. Por conseguinte, esse fator pode afetar o direito à informação, previsto pela Constituição Federal de 1988. Portanto, verifica-se que o Contrato Social, teorizado pelo filósofo John Locke, tem sido violado, haja vista que o governo não assegura o bem-estar de todos.

Além disso, enfatiza-se que há a necessidade de participação coletiva para alcançar uma comunidade que combata esse estigma. Isso porque parte da população se mostra omissa ao não lutar pelo investimento financeiro na ampliação do número de vagas para consultas com psicólogos no Sistema Único de Saúde, uma vez que a carência dessas influencia o pensamento de que as doenças mentais não são importantes no ambiente médico, o que pode atrasar o tratamento de pacientes. Esse cenário pode ser explicado pelas reflexões do sociólogo Zygmunt Bauman, já que, segundo ele, os indivíduos passaram a aceitar quadros negativos em virtude do pessimismo que se abateu sobre a sociedade após a Segunda Guerra Mundial.

Ressalta-se, em suma, que o estigma associado às doenças mentais deve ser superado. Logo, é essencial que as pessoas exijam do Estado, mediante debates em audiências públicas, a divulgação de informações sobre estereótipos existentes sobre as doenças mentais, priorizando o respeito a Constituição, a fim de garantir o direito à informação. Ademais, é fundamental a adoção de uma postura cidadã, por parte do povo, ao participar de palestras sobre os efeitos negativos da inércia social, visando deter a resignação diante da falta de vagas para consultas com psicólogos no SUS. Desse modo, ações imprudentes ficariam restritas ao mito da caixa de Pandora.