O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira

O artigo 3° da Constituição Federal ressalta que é objetivo do Estado assegurar que os cidadãos sejam isentos de julgamento por conta de sua raça, religião e também de enfermidades, sejam elas físicas ou psicológicas. No entanto, a realidade prática torna evidente como indivíduos que sofrem de transtornos psíquicos enfrentam desafios e preconceitos diariamente. Nesse contexto, deve-se analisar como a omissão familiar e o ambiente escolar hostil contribui para persistência de estigmas em relação à saúde mental.

Em primeira análise, cabe ressaltar como o âmbito educacional é hostil para indivíduos com saúde mental instável. Isso ocorre porque, desde o início da vida escolar, o principal objetivo dos professores é repassar informações e preparar alunos para gabaritar provas. De acordo com o sociólogo Émile Durkheim em sua obra “O Suicídio”, quanto mais houver interações sociais entre as pessoas, menor é a probabilidade de cometerem suicídio se alguma adversidade se abater sobre eles. Entretanto, o que se vê nas escolas é uma demasiada primazia em fazer com que os alunos sejam competitivos por meio do desempenho acadêmico, ao invés de incentivar interações que permitam criação de vínculo entre eles. Logo, maior consequência desta dinâmica escolar é formar cidadãos frustrados e cada vez mais propensos a adquirir transtornos mentais como depressão, ansiedade e bipolaridade.

Ademais, vale destacar que ambientes familiares conturbados contribuem para a manutenção dessa conjuntura. Isso acontece devido à uma herança histórico-cultural onde qualquer doença psíquica é negligenciada e tratada de forma errônea, principalmente dentro dos lares. Nessa lógica, o sociólogo Pierre Bourdieu incita em suas reflexões o fato de que a sociedade tende a observar comportamentos, internalizá-los e reproduzí-los no decorrer da vida. Dessa maneira, o que se vê ocorrendo nas famílias é justamente isso, quando os pais notam comportamentos depressivos e situações em que seus filhos estão angustiados, acabam assumindo uma postura ignorante e negligente ao afirmar que toda a situação se trata de “frescura” ou que é apenas uma fase. Um ambiente opressor em casa consequentemente permite que essas posturas sejam repassadas entre gerações, assim como pensava Bordieu.

Portanto, é mister a necessidade de impedir que problemas de saúde mental sejam banalizados na sociedade. O Ministério da Educação, em parceria com psicopedagogos, deve realizar práticas pedagógicas que permitam maior interação entre estudantes, como trabalhos sociais e jogos periódicos, a fim de estreitar as relações entre os estudantes. Além disso, o MEC também deve tornar obrigatória a presença de psicólogos em instituições de ensino, para que esses profissionais prestem assistência à comunidade por meio de palestras aos familiares, e plantões para atender a demanda de dúvidas e impasses do que tange a saúde mental. Dessa forma, alteridade é incorporada pela sociedade e o artigo 3° da Constituição é contemplado em sua totalidade.