O CRESCIMENTO DO COMÉRCIO VIRTUAL NO BRASIL

O ‘American Way of Life’ (estilo de vida americano, em português) foi um modelo comportamental surgido e amplamente estimulado nos Estados Unidos pós-Primeira Guerra Mundial, no qual o poder de consumo dos indivíduos ditava o desenvolvimento do país. Paralelamente, pode-se associar esse conceito à conjuntura brasileira hodierna, visto que o comércio, especificamente online, tem se mostrado em tendência de crescimento. Nesse viés, convém avaliar tal quadro, o qual promove não apenas o enfraquecimento da atividade econômica presencial, como também o consumo exacerbado.

A priori, o fechamento de estabelecimentos comerciais físicos em virtude da pandemia por coronavírus expandiu o e-commerce, totalizando mais de 1,3 milhão de lojas online, de acordo com o portal G1. Embora tal propensão vigore desde a Terceira Revolução Industrial, é fato que ela alavanca uma baixa considerável no mercado presencial, prejudicando, majoritariamente, comerciantes de localidades periféricas e sem acesso à internet. Sob esse viés, alude-se o episódio ’15 Milhões de Méritos’, da série ‘Black Mirror’, no qual as compras realizadas contemplavam somente o avatar, isto é, o ‘cibercorpo’ inteiramente digital do protagonista, sem que houvessem mudanças reais. Destarte, tal cenário representa um panorama preocupante.

A posteriori, é válido ressaltar que o comércio virtual tem acentuado o consumismo no Brasil. Segundo o escritor marxista Guy Debord, na ‘Sociedade do Espetáculo’ privilegiam-se a representação à realidade e a aparência em relação ao ser. Assim, a necessidade de comprar como ferramenta de autoafirmação perante o corpo social e o bem-estar temporário posterior ao ato da compra têm acarretado problemas subsequentes. Analogamente, pode-se citar o filme ‘Os Delírios de Consumo de Becky Bloom’, que retrata uma mulher a qual adquire inúmeras dívidas em função de seu estilo de vida consumista e desregrado. Desse modo, a agilidade na obtenção de novas aquisições, facilitada pelo sistema ‘delivery’, bem como a possibilidade de escolha entre várias opções, faz do comércio online, caso utilizado indiscriminadamente, altamente nocivo aos indivíduos.

Portanto, é mister que o Estado tome providências para amenizar o quadro atual. Urge que o MEC (Ministério de Educação e Cultura), por meio de verbas governamentais, promova uma série de palestras denominada ‘Meu Capital Consciente’, as quais devem ser ministradas por economistas em instituições educacionais de nível fundamental e médio e em praças públicas, a fim de incentivar a valorização do comércio regional e a inteligência financeira entre os indivíduos. Somente assim, a sociedade brasileira não mais será análoga ao contexto americano pós-Guerra.