O bicho na selva de pedra

      Ao ver-se em um estado extremo de pobreza. Fabiano retratado em “Vidas Secas” questiona-se se realmente é um homem. Conclui ser um animal. Graciliano Ramos, desse modo, demonstra como a seca, a pobreza e a fome pode animalizar o ser humano. Com semelhança a atualidade, esses mesmos fatores ainda estão presentes no mundo contemporâneo, refletidos pelas desigualdades sociais.

       A busca por sobrevivência, por comida, por um abrigo são características do mundo animal.  O homem racional acredita não ser mais necessário usar de seus instintos para sobreviver, pois, a comida pode ser encontrada em qualquer super mercado de esquina e inúmeras casas a venda, basta ter apenas dinheiro. O homem não busca mais a sobrevivência do mesmo modo que os animais, no entanto, as grandes cidades tornaram-se selvas de pedra, onde aquele que não desfruta dessa moeda de troca, não tem acesso às facilidades atuais e busca de alguma forma sobreviver.

       O homem foi animalizado pelo dinheiro. Nos lixões não encontramos mais apenas ratos, cachorros ou gatos, lá ele também está presente, buscando algo para manter-se vivo. Como no poema de Manuel Bandeira, o ser humano compara-se novamente a um bicho e não mais como superior aos animais.

      Seja no sertão de Graciliano Ramos ou nas selvas de pedras contemporâneas, portanto, o homem torna-se um animal guiado pelo seu instinto e em busca de sobrevivência, de comida e de dinheiro. Quem ainda vasculha o lixo, busca não ser visto como um animal, mas alguém que clamam por ajuda e o fim das desigualdades que hoje imperam em nome do poder e da riqueza.