Maternidade: imposição ou escolha?

Na série “The Handmaid`s Tale”, é retratado um Estado ultraconservador que tem como objetivo recuperar taxas de fertilidade por meio de estupros de mulheres desempenhadas apenas para o papel de gerar crianças. Ambientado num futuro recente e distópico, logo observamos que o enredo trás situações reais, como por exemplo, o uso de métodos contraceptivos e da inserção da mulher no mercado de trabalho como um problema a ser combatido. Em paralelo a ficção, é claro como a realidade apresentada pode se relacionar àquela do século XXI: a maternidade compulsória e a responsabilização da mulher pela criação dos filhos.
Em primeiro lugar, é importante destacar que maternidade compulsória é a ideia de que mulheres são imperfeitas sem filhos, sendo imposta socialmente a obrigação de ser mãe. Segundo dados do Instituto Market Analysis, 50% das mulheres brasileiras afirmam ter deixado de lado metas profissionais após terem engravidado. Percebe-se então que existe uma tendência de gerar filhos apenas por pressão social, colocando metas pessoais em segundo plano.
Ademais, é cobrada da mulher a maior parte da obrigação de criar uma criança, mesmo quando é preciso conciliar tais deveres sociais com a carreira profissional. De acordo com a psicanalista Vera Iaconell, “A conta: mulher, trabalhos e filhos, preserva injustiça.”, sendo assim, continuam sendo criados empecilhos para a entrada feminina no mercado de trabalho. Paralelamente, conforme CNJ divulgou em 2019, mais de 5,5 milhões de crianças brasileiras não tem nome do pai na certidão. Logo, é observado que a problemática é consequência da forma machista com que se estabelecem relações de gênero.
Portanto, é preciso que não só o Estado, mas também a sociedade como um todo tome providencias para resolver essa série de questões apresentadas. Com a finalidade de promover a equalidade de gênero e a autonomia feminina, espera-se que o Ministério da Mulher, da Família e dos Diretos Humano, programe medidas socioeducativas que promovam a entrada de mulheres nas universidades, a criação de empregos com salários justos e leis que devem punir o abandono paternal. Tais medidas poderiam reduzir o número de gestações não planejadas, além de ser o inicio do pagamento de uma divida histórica da opressão contra mulheres. É dever de todo cidadão e dos lideres governamentais, afastar nosso futuro de uma realidade distópica, com imposições e desigualdades.