Implicações da falta de saneamento básico na saúde pública brasileira

Manoel de Barros, poeta pós-modernista, desenvolveu a chamada “Teologia do Traste”, cuja principal característica reside em dar valor às situações frequentemente esquecidas ou ignoradas. Segunda essa lógica, é preciso, portanto, valorizar também as implicações da falta de saneamento básico na saúde pública brasileira, já que grande parcela social não enxerga tal entrave com a devida relevância. Assim, vale ressaltar que a desigualdade social e omissão governamental são fatores causadores e que precisam de um olhar mais crítico de enfrentamento.

Sob esse viés, é lícito postular a distinção social como impulsionadora desse revés, já que são pessoas que moram em periferias e áreas mais pobres as que mais sofrem com a problemática em questão, e de acordo com o IBGE, somam cerca de 54% da população. Inquestionavelmente, as empresas estaduais de saneamento têm uma grande parcela de culpa, pois, sua função não só se trata da distribuição de água limpa, como também da coleta adequada do esgoto. Como a primeira opção é mais lucrativa, e visam apenas o lucro, as companhias acabam facilitando a proliferação de doenças nos municípios por falta de responsabilidade.

Outrossim, vale destacar que a passividade governamental é um fator que dificulta a resolução do imbróglio. Para entender tal lógica, alude-se ao pensamento do contratualista John Locke, o qual em seu contrato social, afirma que o Estado deve garantir os direitos imprescindíveis dos indivíduos. No entanto, é perceptível que tais direitos têm sido negligenciados, pois o governo irresponsável pouco se importa com a saúde e o bem-estar do coletivo. Isto posto, é claramente um rompimento no pacto pelo filósofo.

Portanto, medidas são indispensáveis para a resolução do impasse. Logo, a Agência Nacional das Águas (ANA) -órgão responsável por fiscalizar e regulamentar os serviços públicos de saneamento básico de todo país-, deve criar projetos mais rígidos para inspecionar empresas de todos os estados através do envio de equipes de profissionais mais qualificados para cada companhia, a fim de garantir que cada uma faça seu trabalho corretamente sem prejudicar a população. Ademais, o Governo Federal em juntura com o Ministério da Saúde, precisa realizar uma campanha de saúde exclusivamente para comunidades mais afetadas pela falta de saneamento, com o fito de preservar a saúde dos moradores através de realização de exames e distribuição de remédios gratuitos. Assim, a Teologia do Traste não se aplicará mais ao Brasil.