Impactos da Cultura do Cancelamento no Brasil contemporâneo

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Em Origens do Totalitarismo, a filósofa Hannah Arendt propõe um estudo sobre o contexto vivido no século XX e suas influências na ascensão da ideologia nazista. Para tanto, a autora recorre ao conceito de banalidade do mal, como forma de explicar a aceitação de condutas nocivas pela população baseada na irreflexão do corpo social. Nesse sentido, verifica-se que no Brasil, assim como em Arendt, a ascensão da cultura do cancelamento tem gerado tanto sua banalização no meio social quanto o acirramento de preconceitos já existentes. Logo, é fundamental analisar tal contexto com vistas a mitigar esse cancelamento no país.

Em princípio, cabe destacar que, no Brasil, a irreflexão sobre o papel das redes sociais perpetua a cultura do cancelamento no país. Afinal, consoante Pitágoras, as sociedades são um reflexo de sua educação, conduta e ações. Isso posto, tem-se que a falta de conhecimento acerca dos efeitos de atos de cancelamento, aliada a replicação desmedida e impensada deste tipo de conduta pelo corpo social, gera a normalização desta prática discriminatória no corpo social o que, por sua vez, culmina na internalização e aceitação de tal conduta perante a população. Desse modo, educar a população acerca dos prejuízos da cultura do cancelamento é passo importante para mitigar seus efeitos no país.

Outrossim, consoante o sociólogo Zygmunt Bauman em seu livro Amor Líquido, as relações sociais no mundo hodierno tem se tornado cada vez mais fluidas, instáveis e frágeis. Assim, sendo a cultura do cancelamento um catalizador para tal liquidez moderna, tem-se o aumento e a intensificação de problemas sociais já existentes como o preconceito racial, a discriminação social entre outros. Ou seja, há uma acentuação das divergências sociais e, por conseguinte, a violação da teoria do Agir Comunicativo, proposta pelo sociólogo Jurgen Habermas, pois, ao invés do diálogo social contínuo e da coesão social propostos pelo filósofo, tem-se o aumento da desagregação social e a exclusão de indivíduos em virtude de preconceitos sociais. Desta maneira, restaurar o diálogo intra social é fulcral ao combate dos cancelamentos no Brasil.

Portanto, é fundamental analisar a cultura do cancelamento a partir das esferas educacional e social. Dito isso, urge que o Ministério da Educação, aliado aos Centros de Assistência Social municipais, promova atividades, ministradas por psicólogos e pedagogos no ambiente escolar, objetivando educar desde cedo os estudantes acerca dos prejuízos advindo do cancelamento. Ademais, o Ministério das Comunicações, em parceria com as Universidades Federais e Estaduais, deve fomentar discussões nas redes sociais e de televisão, por meio de vídeos elaborados por profissionais da área da tecnologia, com o fito de estimular a coesão social através de uma interação saudável nos ambientes virtuais. Feitos isso, poder-se á mitigar a banalidade do mal no contexto dos cancelamentos no Brasil.

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1 Correção

  1. A sua redação está incrível!! ficaram bem estruturados os seus argumentos, o repertório é pertinente e o texto foi muito bem organizado. Eu apenas trocaria ´´ corpo social“ que está sendo usado duas vezes no segundo parágrafo por outro termo semelhante, estão bem próximos. Adorei a sua redação, ficou muito boa!!

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