Gravidez na adolescência: um desafio intersetorial

A adolescência é um período de desenvolvimento humano em que ocorrem grandes transformações físicas e, também, psicoemocionais. Dessa forma, sendo esse período marcado pela vulnerabilidade ele necessita, portanto, de um maior cuidado e atenção com esse jovens os quais estão entrando em um ciclo no qual as curiosidades relacionadas a assuntos considerados tabus no corpo social – como o sexo – aumentam de maneira considerável. Posto isso, esse indivíduos dotados de uma enorme curiosidade, que não é sanada pela família ou pelas escolas, acabam buscando as respostas sozinhos, o que é um perigo e, uma das causas do elevado índice de gravidez na adolescência.

Partindo desse pressuposto, é notório que a grande parcela da sociedade que compõe esses índices são indivíduos marginalizados, da periferia. Assim, ocorre similarmente ao retratado no livro “Clara dos Anjos”, de Lima Barreto, o qual aborda sobre uma menina negra, da periferia e adolescente que acaba engravidando de um jovem que a seduz, evidenciando, dessa maneira, Clara como um menina amorfa –  termo trazido pelo próprio autor, como sinônimo de  vulnerabilidade. Desse modo, a realidade não destoa tanto dessa obra literária, pois a conjuntura atual é dotada de “Clara’s dos Anjos modernas” que possuem a gravidez já como destino a ser enfrentado logo cedo, uma vez que é naturalizado, principalmente em seu meio social.

À vista disso, como afirma Pierre Bourdieu, essa forma de naturalizar a gravidez na adolescência, em específico com a sociedade marginalizada, é um Habitus, ou seja, algo que foi incorporado por um grupo e passado adiante por toda a sociedade. Além disso, o tabu ainda presente na contemporaneidade sobre o falar de sexo é bastante elevado – o que acaba se tornando uma outra forma de habitus -, assim, não existindo o diálogo sobre esse assunto importante para um indivíduo amorfo, potencializa-se o impasse. Logo, é evidente que esse desafio é cercado de habitus, em diversos setores sociais, os quais precisam ser minimizados.

Destarte, fica claro que essa problemática atinge diversos âmbitos. Desse modo, se faz necessário a criação de um projeto nas escolas – feito pelo MEC juntamente com o Ministério da Saúde –  em que seja abordado assuntos considerados tabus, mas que são importantes para o indivíduo em formação, como: o sexo, cuidados e suas consequências, além de ter a participação dos alunos e familiares. Isso para que, assim, os habitus sejam minimizados gradativamente e os indivíduos amorfos fiquem mais instruídos e, uma vez que sua vulnerabilidade será perdida, as “Clara’s dos Anjos modernas” tenham seu aumento evitado.