Favela ainda é senzala

Em “Boa Esperança”, canção do rapper brasileiro Emicida, a luta de classes e a discriminação são expostas como impasses sofridos pelo negro no Brasil. “Onde o inimigo é quem decide quando ofende”, “Perseguição se esquece? Tanta agressão enlouquece”, entre tantos outros versos proferidos pelo cantor, retratam uma realidade incompreensível no país: a persistência do racismo. Diante do exposto, é imprescindível compreender como essa tese surgiu, o porquê de sua insistência e como é possível combatê-la.

Com um passado histórico marcado por desigualdades sociais e opressão, o Brasil, sendo facilmente nomeado como um dos países com mais diversidade étnica e cultural, é, em contrapartida, considerado extremamente racista. Essa ideia pode estar vinculada ao processo de colonização, quando negros oriundos da África eram trazidos ao país de maneira forçada, alusão histórica também feita por Emicida no verso “O tempero do mar foi lágrima do preto”, onde a apropriação da liberdade negra foi desencadeada. Esse episódio histórico está plenamente associado a ideia do racismo estrutural e ao eurocentrismo, já que, ao ter-se o branco como colonizador, é mister criar-se exaltação a tudo que seja do branco.

Ainda convém lembrar que o racismo tornou-se intrínseco de diversas formas. Além do abandono de um viés declarado para adotar um viés velado, a falta de representatividade em diversos âmbitos sociais, a insuficiência, ou até mesmo a ausência, de acesso à educação, saúde e a moradia de qualidade e a constante marginalização do negro são apresentados como obstáculos para o tão distante fim da luta contra o racismo. Tais pontos são abordados em “Um País Chamado Favela”, livro de Renato Meirelles, que traz uma pesquisa que aponta 72% dos moradores de favelas como negros.

Perante a problemática exposta, é incontestável afirmar que o racismo não pode ser travado, mas sim reduzido e para essa proposta ser efetuada, providências são necessárias. Assim sendo, o Ministério da Educação, por meio do incentivo ao estudo da história afrodescendente e com a inserção de tópicos voltados para a educação sociocultural de crianças e adolescentes, deve incentivar a criação de uma consciência sobre este entrave desde cedo na vida dos brasileiros afim de haver uma redução significante de casos de racismo. Além disso, a implementação de palestras voltadas para o tema em diversos níveis de educação podem ser uma grande arma contra a desigualdade, afim de promover a integração da cultura e da realidade negra do brasileiro.