Evasão escolar no Brasil

Em sua obra “Ensaio Sobre a Cegueira”, o escritor José Saramago descreve uma cidade fictícia, na qual, paulatinamente, as pessoas ficam cegas e selvagens. Na trama, o autor usa dessa alegoria para descrever a falta de altruísmo, alteridade e cooperatividade da sociedade contemporânea, a qual se preocupa cada vez menos com o bem-estar social. Ao transpor a ficção e analisar a conjuntura brasileira atual, percebe-se que a obra exemplifica a realidade vivenciada no país, uma vez que a evasão escolar é um problema obnubilado pela população. Nesse contexto, deve-se analisar como a negligência estatal e a necessidade de um trabalho por parte dos alunos impulsionam essa problemática, para, dessa forma, solucioná-lo.

Diante desse exposto, a priori, é importante mencionar que a omissão governamental é um fator que agrava a evasão escolar. De acordo com o geógrafo Milton Santos, em seu livro “As Cidadanias Mutiladas”, a cidadania alcança a plenitude de sua eficácia quando um indivíduo do corpo civil consegue, em sua totalidade e homogeneamente, desfrutar de seus direitos. Todavia, nota-se que tal prorrogativa não é pragmaticamente aplicada em território nacional, pois os estudantes, hodiernamente, abandonam a escola e não aproveitam do direito à educação, o qual lhes é garantido constitucionalmente. Sob essa ótica, enquanto o Governo for passivo e não apresentar formas de contornar o revés, a situação perdurará e a cidadania continuará mutilada.

Ademais, o corpo estudantil é composto por pessoas de várias classes sociais e possui indivíduos que necessitam de empregos para a subsitência, os quais escolhem deixar o ambiente acadêmico antes de completá-lo. Segundo o relatório do banco mundial, apenas 70% dos domícilios não recebem cortes no orçamento familiar, enquanto o restante sofre com esse quadro. Nesse sentido, os jovens, que pertencem a famílias menos abastadas e com situação financeira precária, são, muitas vezes, instigados a procurar uma fonte de renda que possa servir de apoio econômico para a própria família. Contudo, isso representa um problema a ser resolvido, já que a conclusão acadêmica é necessária para a formação de indivíduos intelectuais e éticos.

Portanto, é imprescindível que a evasão escolar seja solucionada brevemente. Para isso, cabe ao Ministério da Educação — orgão promotor do bem-estar social — por meio de investimentos no setor da segurança e educação, aplicar medidas, como a ampliação modular das bolsas de estudo, que impedirão que o problema supracitado prorrogue, a fim de desenvolver uma civilização prospera e intelectualmente desenvolvida. Assim, a sociedade, em suma, não continuará a vivenciar uma cegueira moral.