Doenças autoimunes: desafios para o tratamento no Brasil

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A Constituição Federal de 1988 prevê, em seu artigo 6º, a saúde como um direito inerente a todo cidadão brasileiro. Lamentavelmente, pessoas que sofrem com doenças autoimunes lidam com a falta de acesso a um tratamento de boa qualidade e não possuem as prerrogativas idealizadas aos cidadãos pela Constituição. Com efeito, é imprescindível um debate e a proposição de soluções a essa problemática existente em território nacional, tendo em vista suas causas de ordem estatal e social.

Primordialmente, é importante destacar a insuficiente ação do Estado perante o problema. Nesse sentido, segundo o filósofo renascentista Nicolau Maquiavel, o principal objetivo do governante reside na manutenção do poder e não na promoção do bem comum. A reflexão do pensador ecoa na realidade, ao se analisar a falta de políticas públicas estatais para a manutenção da qualidade de serviço aos doentes autoimunes, na medida em que esses indivíduos não têm considerável representação no pleito eleitoral e são uma minoria invisível à maior parte do corpo social. Por conseguinte, escassas medidas são efetuadas pelos governantes para que o acesso aos serviços de saúde seja pragmaticamente oferecido às pessoas com debilidades, já que tais ações não lhes garantiriam um aumento considerável no número de votos em futuras eleições e, consequentemente, pouco auxiliaria na manutenção do poder destes políticos, confirmando a reflexão que Maquiavel trouxe ainda no Renascimento.

Ademais, é válido salientar a omissão social diante dessa realidade. Nesse âmbito, a filósofa Hanna Arendt, em sua teoria da “Banalidade do Mal”, sustenta que a sociedade se cala perante determinados problemas sociais, o que acaba por naturalizar situações problemáticas. Sob esse viés, é notório a incidência do pensamento de Arendt na situação dos doentes autoimunes, já que a maioria da sociedade enxerga a deficiência dessa minoria como algo banal e de pouca importância, com escassas discussões acerca desse tema no cotidiano. Com isso, há pouca pressão social no governo para mudança desse paradigma e, seguindo a linha filosófica de Arendt, verifica-se a banalização dos desafios que esses cidadãos enfrentam.

Diante do exposto, denota-se a urgência de propostas governamentais que alterem esse quadro. Portanto, a fim de acabar com o desserviço prestado aos deficientes autoimunes e manter a equidade no corpo civil, medidas estatais devem ser tomadas. Nesse sentido, além de campanhas conscientizadoras à sociedade, o Estado, por meio de investimentos no setor de saúde, deve promover a manutenção dos serviços desse âmbito, os quais devem prestar ajuda, seja financeira ou moral, aos deficientes autoimunes diariamente. Tais medidas garantirão o acesso pleno à cidadania por parte de todos os grupos sociais.

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