Dificuldades decorrentes do diagnóstico tardio do autismo

   No filme “Querido John”, o pai do personagem John apresenta alguns comportamentos típicos de portadores da Síndrome de Asperger, a qual faz parte do grupo de Transtornos do Espectro Autista (TEA). No entanto, quando sua namorada menciona o fato, ele não só desconhece que o pai possui tal síndrome como encara isso como uma ofensa. Fora da ficção, o diagnóstico do autismo também é tardio na sociedade brasileira, o que se torna uma problemática, visto que tem como consequências o comprometimento do desenvolvimento e transtornos na vida pessoal.

    Diante desse cenário, é notável que, como os TEA afetam o desenvolvimento cognitivo, social e linguístico dos indivíduos, o tratamento precoce é essencial para impedir possíveis agravamentos da síndrome. Entretanto, de acordo com informações do Senado, até 2019- quando foi aprovada a lei que torna obrigatório censos populacionais sobre o autismo- não havia dados oficiais sobre pessoas com esse transtorno no país. Com base nisso, observa-se que, como tal assunto não tem recebido a devida atenção do governo, não é surpreendente que os pais não consigam relacionar os comportamentos incomuns de seus filhos ao autismo em decorrência da falta de conhecimento sobre o tema.

    Ademais, por apresentarem dificuldades em interagir socialmente, os portadores de TEA sem diagnóstico geralmente são excluídos da sociedade, a qual não compreende nem procura entender as características inerentes a essa população. Sob tal perspectiva, em uma entrevista dada à BBC, Anna, que foi diagnosticada com autismo aos 22 anos, disse: “Quando era adolescente, não conseguia entender o que estava errado comigo. Você não entende ninguém e ninguém te entende”. Nesse sentido, com a compreensão de sua condição, os cidadãos com esse distúrbio poderão evitar sentimentos difíceis de exclusão.

    Portanto, a fim de garantir o diagnóstico dos TEA ainda durante a infância, urge que o Ministério da Saúde realize campanhas de conscientização sobre o autismo, mediante a divulgação de informações que orientem os familiares a se atentarem aos comportamentos que indiquem esse transtorno, tais como: problemas na comunicação verbal e não verbal e apatia. Só assim, casos como o apresentado no filme, em que a síndrome é um tabu para John, serão extintos da sociedade.