Descriminalização do aborto no Brasil

No livro, o segundo sexo, Simone de Beauvoir faz uma crítica ao papel social inferiorizado, imposto ao indivíduo feminino, pela sociedade. Sob essa perspectiva, observa-se que uma das funções desse papel é o de gerar descendentes, e que quando a mulher escolhe não se tornar progenitora ou interromper a gravidez, a sociedade logo cria mecanismos para cercear sua liberdade de escolha sobre o próprio corpo, como a criminalização do aborto. Contudo, em países progressistas, a legalização da prática é amplamente discutida ou até mesmo autorizada pelo Estado. O Brasil no entanto anda na contra mão da descriminalização pois pouco se avança no debate a questão, devido principalmente a tabus criados pela sociedade patriarcal e a falta de representação feminina na política. Sob esse cenário preocupante, torna-se necessário analisar tais entraves que impedem o combate à essa problemática.
Em primeira análise, é importante destacar que a sociedade brasileira sofreu forte influência do patriarcalismo e da religião cristã durante sua construção. Esse passado conservador, tem como reflexo, a criação de diversos tabus a respeito do comportamento feminino, sendo o aborto o principal deles. Em um país majoritariamente cristão , a crença de que a interrupção da gravidez vai de encontro aos preceitos divinos, impede o debate sobre a questão e atrapalha a luta feminina por emancipação.
Ademais, o patriarcalismo religioso está presente em diversas esferas da sociedade brasileira, principalmente na governamental, impossibilitando a criação de pautas a respeito da descriminalização do aborto. Tal problema se intensifica quando observa-se a falta de representação politica feminina no congresso Nacional. Essa defasagem impede que questões importantíssimas, diretamente ligadas a liberdade feminina, sejam representados no âmbito político.
Dessa forma, torna-se imprescindível a criação de ações que revertam essa situação. Em primeiro plano, é necessário o estabelecimento de um ambiente favorável ao debate, a fim de derrubar o tabu criado sobre o assunto. Sendo assim, movimentos feministas e a favor do aborto, através das mídias sociais, devem criar campanhas e conteúdos virtuais para disseminar informações, principalmente nas redes sociais, a respeito do problema. Além disso, e de extrema importância que as mulheres participem ativamente da política, seja candidatando ou elegendo representantes que tragam pautas e projetos de interesse ao eleitorado feminino, visando assim, a emancipação feminina e o fim do papel social imposto a mulher, criticado por Beauvoir.