Desafios para a inclusão digital dos idosos

Na série animada “Rick and Morty”, é retratada as aventuras do cientista Rick, um personagem da terceira idade que consegue usar, de forma otimista e proveitosa, diversos aparelhos digitais para explorar situações fantasiosas. Fora da ficção, é fato que a realidade enfrentada pelos idosos da sociedade brasileira, devido às dificuldades da inclusão digital desses indivíduos, encontra-se distante daquela representada no seriado. Esse cenário é fruto não só da dificuldade dos mais velhos de aprender coisas novas, como também do sentimento individualista presente no país.

Em primeiro lugar, é importante destacar que, na terceira idade, os indivíduos têm dificuldades de adquirir novos conhecimentos. Segundo a teoria da tábula rasa de John Locke, “o ser humano é como uma tela em branco que é preenchida por experiências e influências”. Nesse sentido, é possível desvencilhar que, pelo fato de não ter tido contato com o âmbito tecnológico em sua juventude e, consequentemente, estar destituído de uma aptidão digital que permite um conhecimento técnico, o idoso, ao ficar exposto a uma gama ilimitada de aparelhos eletrônicos que impedem uma fácil adaptação, passa a se sentir incapaz, perde a confiança no processo de aprendizado e cria, por não conseguir ter práticas, um bloqueio para as tentativas de inclusão. Sendo assim, o potencial excludente das tecnologias impossibilita que os idosos conquistem um espaço no meio digital.

Ademais, presencia-se que a parcela jovem da população não se importa com a aproximação da terceira idade com a internet. Segundo o teórico Hans Jonas, “o homem deve preocupar-se com os efeitos coletivos das suas ações e não apenas em consequências individuais”. Essa visão, embora correta, não é efetivada no cenário atual visto que, ao viver em um país capitalista que prega a individualidade e a produtividade constante, as pessoas passam a se definir pelas condições financeiras e, consequentemente, criam um preconceito com os mais velhos, pois, os idosos, ao se aposentarem, tornam-se economicamente inativos e são vistos como atrasos para a sociedade por “não terem mais nada a oferecer”, sendo excluídos do processo digital. Dessa maneira, o sentimento individualista, criado pelas separações sociais, contribui para o impasse da inclusão.

Portanto, é mister que o Estado tome providências para mitigar o quadro atual. Para a inserção dos mais velhos no âmbito tecnológico, urge que o Ministério da Cidadania, em parceria com o Ministério da Educação, crie, por meio de verbas governamentais, projetos sociais gratuitos que ofereçam a essa parcela da população, cursos de educação digital, com horários e dias flexíveis, detalham o funcionamento dos aparelhos eletrônicos e advirtam os interlocutores acerca das facilidades que surgem com o uso da tecnologia, sugerindo ao internauta a buscar esses projetos para praticar os aprendizados e, dessa forma, estar apto para utilizar a tecnologia. Assim, espera-se que os idosos brasileiros consigam manusear os meios digitais da mesma forma que Rick.