Desafios da educação à distância no Brasil

Na série animada “Rick and Morty”, da Netflix, são retratadas as aventuras vividas por um tio e o seu sobrinho dentro de um universo multidimensional. No último episódio, a narrativa revela uma cena peculiar: Rick apresenta a Morty, através de um tablet, o sistema educacional do planeta em que esteve recentemente, onde a maioria dos alunos aprendem em um calabouço fechado e, quando se instala uma intensa crise climática periódica, apenas uma pequena parcela consegue aprender à distância. Fora da ficção, fica claro que a realidade ilustrada na série pode ser relacionada àquela do Brasil no que tange a EAD, tanto pela inflexibilidade do modelo de ensino vigente quanto pelos indicadores socioeconômicos da sociedade.

Em primeiro lugar, é importante destacar que a normatização do atual sistema de aprendizagem constitui-se em um entrave para a democratização da educação à distância no país. Segundo o escritor Gilberto Dimenstein, em seu livro “O cidadão de papel”, o povo brasileiro possui direitos positivados dentro de um documento, mas não gozam de tais benesses no plano material, ou seja, não os veem sendo aplicados pelo Estado de forma integral. Paralelamente, percebe-se que um desses direitos, o que se refere à educação, não é garantido pelo governo pelo fato de promulgarem regras e normas que dificultam o acesso à EAD e permitem com mais facilidade o modelo tradicional. Logo, nota-se claramente a questão burocrática para a resolução de tal impasse.

Além disso, pode-se analisar a pauperização de diversos setores da sociedade como um fator impeditivo no que concerne a problemática discutida. Nas palavras do intelectual Paulo Freire, “a educação se tornou um bem da burguesia”. Nessa perspectiva, é patente que o hodierno sistema de ensino privilegia a maioria em detrimento de uma minoria de estudantes marginalizados, os quais vivem em uma situação de vulnerabilidade social e, por isso, não possuem poder aquisitivo para adquirir acesso a uma plataforma de estudos virtual. Por exemplo, é possível observar esse fenômeno na presente pandemia do novo coronavírus. Destarte, questões de ordem financeira também se enquadram como um entrave.

Portanto, é mister que sejam tomadas medidas para amenizar o quadro atual. Para diminuir as desigualdades sociais e permitir a EAD a uma parcela maior da população, urge que o Congresso Nacional aprove, mediante pressão pacífica e ordeira de movimentos estudantis, leis e regulamentos que aumentem em 10% o auxílio do Bolsa Família para que famílias mais humildes possam disponibilizar recursos materiais para o ensino de seus filhos. Não só, o Ministério da Educação e da Cultura deve facilitar, por intermédio de portarias no Diário Oficial, a implementação da educação à distância no território tupiniquim. Somente assim, será possível que o Rick, ao nos visitar, conte outra história ao Morty.