Iniciante

Democratização do acesso ao cinema no Brasil

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No filme “Tempos Modernos”, datado do início do século XX e estrelado por Charles Chaplin, é retratado de forma cômica o dia-a-dia de um trabalhador industrial. Ao longo da trama, a narrativa revela a mecanicidade dos movimentos técnicos e outros hábitos da rotina desse operário, com o intuito secundário de transmitir o conhecimento de um abrangente fenômeno social ao público em geral. Fazendo um paralelo com o Brasil atual, fica claro que o acesso desse público à sétima arte não é plenamente democratizado e os fatores são dois: a segregação espacial da localização dos cinemas e a disparidade de poder econômico presente entre os diversos indivíduos da sociedade.

Em primeiro lugar, é importante destacar que a alta concentração de cinemas em determinadas áreas contribui para o cenário analisado. Desde a vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, no fim do período colonial brasileiro, a maior parte dos investimentos públicos e privados em infraestrutura e lazer são destinados aos grandes centros econômicos e turísticos. Soma-se a isso o fato de que, segundo o censo de 2010 do IBGE, 98% das salas de cinema ficam a mais de 100 Km de qualquer área rural. Não só, nessa mesma pesquisa dados apontam que 92% dos cinemas presentes nas capitais do país estão em áreas nobres (PIB per capita maior do que R$5000,00). Assim, mostra-se patente a exclusão espacial de grande parcela do povo, notadamente a que provém do campo ou da periferia, dos serviços relacionados à sétima arte na terra tupiniquim.

Além das questões geográficas, torna-se indubitável como fator causador do problema, hodiernamente, as desigualdades no que tangem ao poder aquisitivo das pessoas espalhadas pelo tecido social. Como disse René Lumiére, um dos criadores do cinema, “o cinema e o oxigênio em abundância no ar possuem o mesmo dono, a humanidade.” Visto isso, é perceptível que a busca capitalista pelo lucro interfere nesse princípio ao fazer com que o preço do ingresso das sessões nos cinemas permaneçam em valores muito elevados, acima das expectativas financeiras dos grupos mais vulneráveis da população. Logo, tal fato socioeconômico resulta no impedimento de parte dos indivíduos da sociedade às diversas produções culturais audiovisuais, configurando-se em um importante obstáculo na universalização do contato com o cinema no Brasil.

Portanto, é mister que sejam tomadas providências para amenizar o quadro atual. Para lidar com a segregação geográfica dos ambientes de exibição cinematográfica, urge que o Ministério da Infraestrutura implemente, por meio do envio de verbas às secretarias de desenvolvimento urbano municipais das capitais brasileiras, obras públicas que interliguem os grandes centros culturais às periferias e à zona rural do estado em questão. Também, é necessário que esse mesmo órgão da União, com o objetivo de aumentar o acesso ao cinema da parte mais pobre da população, ofereça, através de reformas nas diretrizes orçamentárias da instituição, benefícios tributários às empresas que diminuam o preço de seus ingressos. Somente assim, será possível que, 100 anos após a sátira de Chaplin, a indústria pare de parodiar o cinema.

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2 Correções

  1. Eu gostei demais da sua redação! Além de um domínio da língua portuguesa, você utilizou argumentos pertinentes, dando ainda mais destaque pro seu texto. Sugiro apenas que você se aprofunde mais na argumentação, fora isso, seu texto está maravilhoso.

    C1 = 200
    C2 = 180
    C3 = 200
    C4 = 200
    C5 = 200
    980/1000

    Não sou profissional, mas tento ajudar como posso.

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  2. INTRODUÇÃO
    – “dia a dia”, e não “dia-a-dia”. De acordo com o acordo ortográfico, não se usa hífen em palavras ligadas por preposições.
    – Acredito que o seu repertório de introdução não é muito bem pertinente ao tema, uma vez que você fala sobre o filme retratando a mecanicidade do trabalho, ou seja, nada se vê sobre o cinema no seu repertório. O repertório não tem nenhuma ligação com o cinema, e você deve falar sobre toda a sociedade que não consegue ir ao cinema, e não apenas os trabalhadores. Além disso, mesmo se o repertório fosse válido, vc deveria descrevê-lo menos, pois ele serve apenas para contextualizar o tema.

    DESENVOLVIMENTO 1
    Seu primeiro parágrafo de desenvolvimento é muito expositivo, você coloca muito repertório e pouco desenvolve eles. Acredito que, em vez de falar sobre as estatísticas do IBGE, seria melhor explicar quais são os impactos que a vinda da família real para o Brasil causam na distribuição dos cinemas. Por exemplo, dizer que, apesar do lapso de tempo, ainda os investimentos privados seguem a lógica do Brasil Colônia e Brasil Império, isto é, investimentos na região sudeste e depois você falaria que, por causa disso, as pessoas mais afastadas dos grandes centros urbanos não conseguem ter acesso ao cinema.
    – É aconselhável definir as siglas: citar Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Produto Interno Bruto.
    – “Censo”, com inicial maiúscula.

    DESENVOLVIMENTO 2:
    – Suas ideias foram mais desenvolvidas neste parágrafo.
    – Atente-se à palavra “cinema”. Somente neste parágrafo, você repetiu quatro vezes.

    CONCLUSÃO
    – Sua proposta de intervenção contém os cinco elementos necessários para garantir a nota máxima na competência 5: agente, ação, meio, finalidade e detalhamento.
    – Atente-se ao uso da expressão “através”. Muitos corretores tiram pontos, porque passa uma ideia de algo tangente. Substitua por “por intermédio de” ou por “mediante”.

    NOTA: 800

    Competência 01: 160

    Competência 02: 160

    Competência 03: 120 (defender melhor o ponto de vista no desenvolvimento 1)

    Competência 04: 160 (quatro vezes o termo cinema em um parágrafo, mesmo que seja a expressão chave do tema, não se pode abusar da repetição, visto que há palavras capazes de substituir).

    Competência 05: 200

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