Da academia à cirurgia: até quando a busca pelo ideal de imagem é uma escolha saudável?

O pioneirismo do cinema hollywoodiano, no século XX, proporcionou a criação de ideais de imagem, de poder aquisitivo e de popularidade. Por esse pensamento, o filme “Meninas Malvadas” retrata um trio de garotas que são reconhecidas, admiradas na escola e que apresentam características estéticas invejáveis pelos demais alunos. Para além da ficção, esse cenário é recorrente no corpo social e, constantemente, ultrapassa os limites da saúde. Assim, convém analisar os desdobramentos sociais na consolidação dos padrões estéticos e a intensificação do culto ao corpo idealizado pela mídia.

Em primeira análise, a formação e posterior estabelecimento de diferentes padrões em cada tempo histórico está vinculado com a  aceitação social. Nessa perspectiva, a obra cubista “A Boba” de Anita Malfatti demonstra uma mulher que detém um semblante de tristeza e de insegurança por não atender as expectativas da sociedade do século XX. À vista disso, a artista exemplifica o sentimento de muitos indivíduos que, para serem incluídos no cerne social, recorrem a procedimentos estéticos irreversíveis sem dispor de saúde física e mental. Consequentemente, a imposição de estereótipos acomete inúmeros “bobos” que, ao tentar segui-los ao extremo, acabam com distúrbio de imagem e frustrações frequentes.

Ademais, na era científica e informacional, o poder persuasivo das plataformas digitais potencializaram o culto à imagem. Desse modo, a adoção de dietas extremas veiculadas na rede  são amplamente seguidas e, em muitos casos, sem indicação e acompanhamento de um profissional de saúde. Sob esse viés, em alusão às ideias do sociólogo da comunicação Pierre Bourdieu, a linguagem corporal é decisiva para distinção social, isto é, o poder de consumo, as características pessoais e o acesso aos bens de serviço refletem quem é o homem para outrem. Logo, com o objetivo de ter “status” social, não há a consideração e ponderação dos riscos, como infecções e alergias.

Depreende-se, portanto, que as implicações sociais negativas com a fixação de padrões e a mídia como intensificadora constituem desafios. Para superá-los, cabe as escolas públicas e privadas promover a formação tecnológica crítica dos educandos, por meio da elucidação prática de situações-problema vivenciados na comunidade digital, especialmente pelos docentes de sociologia, haja vista a vasta capacidade de indagação sobre a comunidade inerente à tal área, com o fito de estabelecer a inclusão, aceitação das diferenças e escolhas saudáveis. Por conseguinte, o estereótipo hollywoodiano será contestado e a cena cotidiana em “Meninas Malvada” terá fim.