Iniciante

Catracalização da vida e autoridade

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Em julho de 2004, foi erguido, no centro da cidade de São Paulo, um monumento constituído por uma catraca suportada por um pedestal. Posteriormente, o grupo “Contra Filé” assumiu a autoria do “monumento à catraca invisível”, explicando que a obra simbolizava as inúmeras imposições sofridas, diariamente, por cada cidadão. Nesse sentido, vê-se profícua a análise da crítica feita pelo grupo, sobretudo no que tange às formas de coibição e a relação de tal tema com o exercício da autoridade.

A priori, é válido citar o conceito de coerção social, cunhado pelo sociólogo Émile Durkheim. Esse termo se refere a qualquer tipo de força externa ao indivíduo que molda suas ações. Tal fator coercitivo pode ser um valor moral socialmente aceito ou um código legal que vigora sobre determinado território. Independentemente de sua natureza, o elemento da coerção obriga o indivíduo a conformar-se a certas normas, mesmo contra sua vontade.

Ademais, cabe relacionar essa questão à formação e ao uso da autoridade. Na sociedade capitalista, esse fenômeno se dá de forma institucionalizada, já que a opressão, diversas vezes, encontra respaldo legal. A Lei das Terras, promulgada em 1850, é um exemplo do uso do sistema legal a fim de corroborar com interesses da elite econômica. Dessa forma, a afirmação do grupo “Contra Filé” de que o controle é exercido pelo capital e pelo governo é assaz pertinente.

Por fim, como bem traduziu Drummond em seu “Poema da Necessidade”, nota-se que todas essas limitações impostas a cada indivíduo são responsáveis pela ansiedade e pela angústia do mundo moderno. Por esse motivo, o “Programa para a descatracalização da vida”, iniciado pelo grupo responsável pelo “monumento à catraca invisível”, mostra-se relevante no contexto hodierno.

 

Textos de apoio:

“Catraca invisível” ocupa lugar de estátua Sem que ninguém saiba como – e muito menos o por quê – uma catraca enferrujada foi colocada em cima de um pedestal no largo do Arouche (centro de São Paulo). É o “monumento à catraca invisível”, informa uma placa preta com moldura e letras douradas, colocada abaixo do objeto, onde ainda se lê: “Programa para a descatracalização da vida, Julho de 2004”. (Adaptado de Folha de S. Paulo, 04 de setembro de 2004)

Grupo assume autoria da “catraca invisível” Um grupo artístico chamado “Contra Filé” assumiu a responsabilidade pela colocação de uma catraca enferrujada no largo do Arouche (região central). A intervenção elevou a catraca ao status de monumento “à descatracalização da vida” e fez parte de um programa apresentado no Sesc da Avenida Paulista, paralelamente ao Fórum das Cidades. No site do Sesc, o grupo afirma que a catraca representa um objeto de controle “biopolítico” do capital e do governo sobre os cidadãos. (Adaptado de Folha de S. Paulo, 09 de setembro de 2004)

Em site sobre o assunto, assim foi explicado o projeto do grupo “Contra Filé”: “O ‘Contra Filé’ desenvolveu o PROGRAMA PARA A DESCATRACALIZAÇÃO DA PRÓPRIA VIDA. A catraca representa um signo revelador do controle biopolítico, através de forças visíveis e/ou invisíveis. Por quantas catracas passamos diariamente? Por quantas não passamos, apesar de termos a sensação de passar?”

 

INSTRUÇÃO:

Como você pôde verificar, observando o noticiário da imprensa e o texto da Internet aqui reproduzidos, a catraca que “apareceu” em uma praça de São Paulo era, na verdade, um “Monumento à catraca invisível”, ali instalado pelo grupo artístico “Contra Filé”, como parte de seu “Programa para a descatracalização da vida”. Tudo indica, portanto, que o grupo responsável por este programa acredita que há um excesso de controles, dos mais variados tipos, que se exercem sobre os corpos e as mentes das pessoas, submetendo-as a constantes limitações e constrangimentos. Tendo em vista as motivações do grupo, você julga que o programa por ele desenvolvido se justifica? Considerando essa questão, além de outras que você ache pertinentes, redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, argumentando de modo a apresentar seu ponto de vista sobre o assunto.

 

Tema da FUVEST de 2005.

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1 Correção

  1. Olá, texto muito bom, vamos a correção. (Padrão ENEM)
    1) Domínio da norma padrão da língua portuguesa;
    200 PONTOS DE 200
    2) Compreensão da proposta de redação;
    200 PONTOS DE 200
    3) Seleção e organização das informações;
    200 PONTOS DE 200
    4) Demonstração de conhecimento da língua necessária para argumentação do texto
    170 PONTOS DE 200
    5) Elaboração de uma proposta de solução para os problemas abordados, respeitando os valores e considerando as diversidades socioculturais.
    100 PONTOS DE 200
    NOTA: 870 PONTOS DE 1000

    Texto difícil de ser elaborado. Muito bom o seu domínio.
    Pra mim faltou apenas uma proposta de solução e o texto contém algumas palavras de difícil compreensão. O leitor não pode ter muita dúvida com palavras, use palavras mais comuns.
    Pra cima!!! Abçs

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