Automação e Trabalho: além das aparências

26/7/2017: Mc Donalds lança no Brasil restaurante tecnológico com totens de autoatendimento para realização dos pedidos.  Modelo que continua a ser expandido desde então. Para quem já esteve numa dessas unidades, a primeira impressão é um misto de deslumbre com a inovação e de espanto com a resposta implícita para a pergunta “onde foram parar os caixas?”. É impossível refletir sobre a automação e deixar de pensar na aparente relação de conflito que esse processo parece estabelecer com a demanda de trabalho.

Há dois imaginários recorrentes sobre o fenômeno da automação. O primeiro, mais comum, traça um cenário futuro de desemprego estrutural e de miséria, pela menor demanda de trabalho humano em função da tecnologia. O segundo, otimista, vê no processo uma oportunidade de autorrealização humana, na qual o ser humano ao trabalhar menos, poderia se dedicar a desfrutar a vida de forma mais proveitosa, dedicando-se ao que lhe dá prazer.

Não é possível prever o futuro, mas, é difícil crer no segundo cenário, ao verificarmos as tendências da conjuntura socioeconômica atual.  De um lado, a concentração de renda, em escala mundial, intensifica-se. Segundo o relatório “O Tempo de Cuidar”, 1% da população mundial concentra mais que o dobro da riqueza de 99% da população.

Por outro lado, assiste-se ao fenômeno da uberização das relações de trabalho. Mais informal, flexível e por demanda, o trabalho uberizado desponta como uma alternativa a um panorama pessimista no mercado formal. Embora, o trabalhador tenha mais liberdade especialmente quanto aos seus horários, há a contrapartida de uma renda com menor valor agregado e menos direitos trabalhistas e previdenciários. É, por isso, visto como uma forma de trabalho precarizado, pois o trabalhador está duplamente desprotegido em matéria de proteção social: ausência de garantias trabalhistas e excluído do sistema de seguridade social.

Nesse sentido, a relação de conflito entre automação e o trabalho parece se confirmar pelo processo histórico.  A resolução desse conflito dependerá, porém, enfrentar aquilo que está por trás das aparências: a automação espanta, porque reforça as características de um mundo desigual. O imaginário otimista sobre o futuro do trabalho é infundado, a menos que você faça parte do 1% mais abastado da população.  Um futuro saudável do trabalho na realidade da automação, dependerá do enfrentamento do fenômeno da concentração de renda e de um sistema socialmente justo.