O livro “Capitães da Areia”, do escritor brasileiro Jorge Amado, retrata a história de um grupo de meninos, que, liderados por Pedro Bala, vivia nas ruas em busca de recursos para viver. Nesse contexto, a obra evidencia o desinteresse da sociedade no que tange à adoção dessas crianças, que encontraram na rua a porta de entrada para a criminalidade. Para além da ficção, percebe-se que, no Brasil, há muitos infantes deixados em orfanatos, mas há óbices que inviabilizam o andamento do sistema adotivo, tais como o estabelecimento de um padrão de pueris, além da morosidade do processo.
A princípio, nota-se que a preferência dos casais por crianças mais novas é uma problemática no Brasil contemporâneo. Nesse viés, tal situação é retratada na trama da novela brasileira “Chiquititas”, na qual a adoção da personagem Mili é constantemente negada pelos adultos, por essa já ser uma adolescente, e, teoricamente, mais “difícil de educar”. Sob essa ótica, fica evidente que o padrão de infantes estabelecido na sociedade é um estigma que influencia os processos adotivos, e vai de encontro à perspectiva do dramaturgo irlandês George Shaw. De acordo com ele, para obter o progresso social é necessária a igualdade dos indivíduos, fato constantemente negado na nação verde-amarela, quando há a preferência por pueris em detrimento dos mais velhos.
Concomitantemente, sabe-se que a demora dos processos de adoção é um fator agravante da problemática em pauta. Sob esse prisma, é indubitável que a Lei da Adoção, retificada em 2009, garante a otimização do tempo, isto é, minimiza o período de espera dos casais, agilizando, teoricamente, o processo burocrático como um todo. No entanto, embora seja garantida constitucionalmente, a legislação mencionada vai ao encontro do pensamento do filósofo Ferdinand Lassalle; segundo ele, uma lei, quando não reflete a realidade de um local, torna-se uma mera folha de papel. Dessa forma, vê-se que a realidade do território tupiniquim contraria as diretrizes previstas pela Lei que rege o país.
A partir dos fatores supracitados, infere-se que o sistema de adoção do Brasil ainda é falho. Portanto, urge que o Estatuto da Criança e do Adolescente, em parceria à mídia – veículo de comunicação capaz de construir opiniões acerca de determinados assuntos -, amplie a divulgação das campanhas adotivas, por meio de propagandas que fomentem a vontade e a necessidade de adotar crianças e adolescentes. Tais projetos devem ser veiculados nos sistemas midiáticos, como a internet e a televisão, a fim de promover o rompimento dos estigmas associados ao “padrão ideal” de crianças. Somente assim, a situação de indivíduos desamparados, vista na obra de Jorge Amado, será minimizada na nação brasileira, e as lacunas referentes à adoção serão preenchidas.
coloquem nota pleasee
Ângelo.
Olá! Não sei qual seu estilo de correção, mas corrigirei de acordo com as competências do ENEM:
C1: 180
Escreveu muito bem, parabéns!
C2: 200
Não fugiu do tema em nenhum momento! Parabéns!
C3: 160
Achei sua argumentação superficial, os repertórios estão improdutivos. Precisa argumentar em cima deles e defender seu ponto de vista.
C4: 200
Muitos conectivos! Excelente!
C5: 200
Proposta de intervenção completa.
Nota final: 940
Ótima redação!!
Mr.Crozma
Como estratégia de prova e ciente de que o mil é alcançável com menos de 400 palavras, sempre vou sugerir que reduza o número de palavras, de forma a ganhar tempo de prova, reduzir o estresse e diminuir as chances de o corretor encontrar alguma discordância de norma culta que ultrapasse os 03 erros que tiraram o seu mil no último exame. Como são poucos os que seguem essa sugestão, talvez eu devesse usar outros argumentos, mas os desconheço no momento, e então devo pedir desculpas por não convencê-la disso.
A nota do Angelo me chamou a atenção, e aí fui verificar o que ele tinha visto de errado no seu texto. Dou alguma razão às duas notas abaixo de 200 dele.
Sobre a C1, três* desvios podem justificar um 160:
– “liderados” ou “vivia” (1º parágrafo, 1ª frase): eu sinceramente não sei se contaria como desvio, mas a concordância, que era opcional, cobrava, portanto, uma opção; seria curioso dar 160 por causa disso;
– “fica” (2º parágrafo, 3ª frase): por caracterizar, pra mim, uma oralidade;
– ausência de vírgula após a oração adverbial deslocada “para obter o progresso social” (mesmo parágrafo, 4ª frase);
*menção especial a “vai ao encontro de Lassalle”, que, numa leitura rápida, pode sinalizar um erro, já que veio num contexto de contradição. Não foi um erro, mas em busca de tirar o mil de alguém, me parece que aqui o corretor teria uma oportunidade.
Sobre a C3, uma primeira observação sobre algumas palavras que você deveria evitar. “Evidente”, “indubitável”, “somente”; tudo isso chama uma responsabilidade para o que você disse que não era necessária, e aí gera perguntas que podem tirar o 200 da C3 de bobeira.
Como assim um exemplo de novela torna “evidente” um problema? Novela é prova? Um exemplo, sozinho, é suficiente para tornar incontestável algum argumento?
Sobre o “indubitável” eu até eu levei um susto; não se comprometeu, mas poderia, de tal forma que eu nunca recomendaria o uso dessa palavra numa argumentação, ainda mais sobre leis.
Por fim, o “somente”, que aí beira o desrespeito com outras propostas que não a sua e é facilmente contestável, até porque o Enem só propõe temas que têm mais de uma saída, que não têm resposta pronta.
Agora, sobre a estratégia argumentativa. Eu vejo que muitas linhas foram gastas desenvolvendo informações que não agregavam tanto assim. Lembro do meu professor dizendo que exemplo bom é aquele de uma linha, que serve para ilustrar algo que o próprio escritor já disse. Quando vejo 3, 4 linhas de narrativa, fico incomodado. Dela, me surgem as perguntas:
– por que adolescentes são “teoricamente mais difíceis de educar”? Por que a ênfase no teoricamente? Mas, de fato, elas não são mais difíceis de educar?
– o que explica o fato de haver adolescentes a serem adotados? Por que não foram adotados quando tinham menos de 12 anos? Menos de 4 anos?
Em seguida, a citação sobre igualdade e progresso: não houve uma exposição argumentativa sobre o que leva os mais jovens a serem adotados, então como posso chegar à conclusão comparativa de há desigualdade de tratamento entre crianças e adolescentes?
Não explorar aquele “teoricamente” fez muita falta para entender o seu critério de igualdade, até porque o princípio inclui tratar os desiguais de forma desigual. Será que estamos fazendo certo ao esperar que o mesmo processo adotivo sirva para crianças de 03 anos e crianças de 11 anos? Acho que era um debate possível de ser feito aqui.
Sobre o segundo argumento, tenho um preconceito especial com o “isto é”, tal qual com o “ou seja”. Você não deve perder espaço explicando algo que já disse; numa argumentação, é quase que uma confissão de que não explicou bem na primeira declaração, e aí você vai gastar mais linhas dizendo a mesma coisa e, talvez, chamando o leitor de burro, como se ele não tivesse entendido a primeira frase, desperdiçando o tempo dele.
O centro da sua argumentação aqui era apresentar outra contradição, mas você não aprofundou essa correlação entre lei e realidade, em que, nesse caso, eu sequer imagino ser o caso de culpa da lei ou de seu descumprimento. A realidade brasileira é um tanto complicada no que tange à compatibilidade.
É um tema difícil, que fique claro, e talvez por isso nunca seja cobrado no Enem, já que as propostas nem mesmo o Poder Judiciário consegue resolver. Seja como for, parece que há um padrão argumentativo em ti, de buscar contradições para contra-argumentar. Eu sugiro, portanto, que não se deixe driblar por palavrinhas mágicas que nada trazem argumentativamente, como o “indubitável”, e explique com mais profundidade o cerne das contradições que você promete explorar.
Para responder a mais perguntas, imagino que precise reduzir alguns trechos. Vejo possibilidades em quase todas as frases, e aí uma menção honrosa à conclusão, que até excede a quantidade de elementos a cumprir.
Mas era um tema difíci,l e eu entendo esses excessos como demonstração fiel de que você é uma ótima estudante. Não sinto ser possível que você tire menos de 920.
Parabéns, uma das melhores relações palavras-erros que já encontrei.
cartola682
O livro “Capitães da Areia”, do escritor brasileiro Jorge Amado, retrata a história de um grupo de meninos, que, liderados por Pedro Bala, vivia(6) nas ruas em busca de recursos para viver. Nesse contexto, a obra evidencia o desinteresse da sociedade no que tange à adoção dessas crianças, que encontraram na rua a porta de entrada para a criminalidade. Para além da ficção, percebe-se que, no Brasil, há muitos infantes deixados em orfanatos, mas há óbices que inviabilizam o andamento do sistema adotivo, tais como o estabelecimento de um padrão de pueris, além da morosidade do processo.
6 – paralelismo: liderados/viviam.
A princípio, nota-se que a preferência dos casais(1) por crianças mais novas é uma problemática no Brasil contemporâneo. Nesse viés, tal situação é retratada na trama da novela brasileira “Chiquititas”, na qual a adoção da personagem Mili é constantemente negada pelos adultos, por essa já ser uma adolescente, e, teoricamente, mais “difícil de educar”. Sob essa ótica, fica evidente que o padrão de infantes estabelecido na sociedade é um estigma que influencia os processos adotivos, e vai de encontro à perspectiva do dramaturgo irlandês George Shaw. De acordo com ele, para obter o progresso social(5) é necessária a igualdade dos indivíduos, fato constantemente negado na nação verde-amarela, quando há a preferência por pueris em detrimento dos mais velhos.
1 – Aqui acho que você generalizou, pois não somente os casais adotam.
5 – vírgula
Análise da argumentação: Bom, você apontou que a preferência por crianças mais novas é um problema no que tange ao sistema de adoção. No entanto, veja que a menção da novela não deixa evidente que isso ocorre no Brasil, apenas exemplifica como isso ocorre. Então acho que aqui você poderia ter focado em demonstrar porque essa preferência por crianças mais jovens é um problema, dando exemplos de como isso prejudica aos adolescentes de orfanatos, e como isso fere princípios éticos, além de explicar que tipo de comportamento tem os adolescentes que faz com que eles sejam “rejeitados”.
Concomitantemente, sabe-se que a demora dos processos de adoção é um fator agravante da problemática em pauta. Sob esse prisma, é indubitável que a Lei da Adoção, retificada em 2009, garante a otimização do tempo, isto é, minimiza o período de espera dos casais(2), agilizando, teoricamente, o processo burocrático como um todo. No entanto, embora seja garantida constitucionalmente, a legislação mencionada(3) vai ao encontro do pensamento do filósofo Ferdinand Lassalle; segundo ele, uma lei, quando não reflete a realidade de um local, torna-se uma mera folha de papel. Dessa forma, vê-se que a realidade(4) do território tupiniquim contraria as diretrizes previstas pela Lei que rege o país.
2 – não somente casais adotam
3 – não é a legislação que vai de encontro, mas sim o descumprimento da legislação.
4 – repetição de palavras
Análise da argumentação: Certo, você defende que a demora dos processos de adoção é um fator agravante da problemática. A partir disso, dá o exemplo da Lei de Adoção para demonstrar a necessidade legislativa de otimizar o tempo, e depois afirma que o Brasil contraria a lei ao ter processos demorados de adoção. Um problema que vi é que você não deixa claro que no Brasil os processos burocráticos são demorados, apenas diz que a lei vai de encontro ao pensamento de um filósofo, mas fica abstrato, não afirma concretamente o que ocorre na realidade brasileira. Outra coisa que faltou para demonstrar o quão grave é esse problema, foi dar exemplos de efeitos negativos que possivelmente ocorrem, tanto para os órfãos quanto para as pessoas que adotam, devido à demora dos sistemas de adoção. Um exemplo disso é a desistência dos responsáveis de adotar em vista da demora, ou a menção de que, enquanto há um processo burocrático demorado, as crianças continuam a viver sem família, etc.
A partir dos fatores supracitados, infere-se que o sistema de adoção do Brasil ainda é falho. Portanto, urge que o Estatuto da Criança e do Adolescente(agente), em parceria à mídia – veículo de comunicação capaz de construir opiniões acerca de determinados assuntos(detalhamento) -, amplie a divulgação das campanhas adotivas(ação), por meio de propagandas que fomentem a vontade e a necessidade de adotar crianças e adolescentes(meio). Tais projetos devem ser veiculados nos sistemas midiáticos, como a internet e a televisão, a fim de promover o rompimento (finalidade) dos estigmas associados ao “padrão ideal” de crianças. Somente assim, a situação de indivíduos desamparados, vista na obra de Jorge Amado, será minimizada na nação brasileira, e as lacunas referentes à adoção serão preenchidas.
C1: 180
C2: 200
C3: 160
C4: 200
C5: 200