“As considerações estão perdidas” (Tema: Desafios das políticas públicas na busca por pessoas desaparecidas no Brasil)

A animação “Procurando Dory”, da produtora “Pixar”, mostra as dificuldades enfrentadas pela peixe homônima em encontrar seus pais em meio à vastidão do oceano, repleto de obstáculos ao desfecho de sua angústia. Fora da ficção, a realidade brasileira convive com o constante desconhecimento do paradeiro de diversos cidadãos; situação agravada ainda mais pelos entraves à procura e ao reconhecimento desse indivíduos. Diante esse cenário, fica evidente que a falta de políticas públicas para solucionar o tema constitui-se como uma problemática relevante, advinda da ineficiência na organização cadastral do desaparecimento de pessoas e, por conseguinte, da negligência do impasse por parte do corpo social atual.

Primeiramente, a inadequação dos serviços públicos em coletar informações acerca das pessoas desaparecidas é um hiato que compromete a busca e o êxito das investigações de tais casos. Como mostra o filme estadunidense “Velozes e Furiosos 7”, a existência de uma tecnologia de reconhecimento facial chamada “Olho de deus”  auxilia na procura de diversos personagens, os quais são encontrados devido à gama de dados disponíveis sobre eles. Nessa conjuntura dissonante à do Brasil, percebe-se que um levantamento cadastral mais eficiente é capaz de solucionar diversas situações de desaparecimento, uma vez que a comunicação entre diversos agentes públicos fica facilitada  e favorece a tomada de decisões baseadas no que se sabe sobre essas pessoas. Logo, o uso inteligente de informações é essencial para o reconhecimento de ações afirmativas do Estado, já que na maioria das vezes a sociedade não se dá conta dessa realidade e a desconsidera.

Em decorrência disso, o desconhecimento da gravidade do fenômeno dos desaparecimentos pela população serve como mais um desafio à solução dessa adversidade, visto que ela não ganha visibilidade e é ignorada. No intuito de mitigar tal descaso, o programa dominical “Eliana”, pertencente ao canal SBT, passou a mostrar em seus intervalos fichas de pessoas desaparecidas, contando com o apelo de familiares para reencontrá-las. Infelizmente, práticas como essa são raras, pois é notória a falta de interesse da coletividade, mesmo com estimativas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública contabilizando 693 mil desaparecimentos entre 2007 e 2016. Portanto, um maior interesse das massas pelo assunto e a consequente divulgação pela mídia devem ser uma das prioridades das ações do poder público.

Finalmente, depreende-se que o enfrentamento do problema demanda medidas cabíveis. Urge que o SERPRO (Serviço Federal de Processamento de Dados), em parceria com as Delegacias de Polícia Civil – portas de entrada para o início das buscas -, promovam a coleta sistemática de dados dos cidadãos desaparecidos por meio do preenchimento de formulários específicos para esse fim, com o fito de organizar esse material em categorias, possibilitando uma maior agilidade às investigações dessa natureza. Além disso, cabe ao Estado veicular campanhas de conscientização mostrando as histórias desses desencontros na televisão, para que não sejam mais uma estatística e fiquem incógnitos. Somente assim o drama vivenciado por Dory não se repetirá no contexto brasileiro, e muitas famílias saberão o paradeiro dos seus entes queridos.