As consequências da romantização de crimes na sociedade brasileira

O filme “Joker”, estrelado por Joaquin Phoenix, narra a história de um fracassado comediante que sofre de distúrbios mentais. A trama é, por um lado, direcionada pelo momento em que o protagonista assassina três homens no metrô, fazendo com que as massas populares se identifiquem com ele e criem um movimento para apoiá-lo. Analogamente ao longa-metragem, na contemporaneidade, inclusive no Brasil, também é possível verificar uma certa “aceitação” de personalidades criminosas, através da romantização de crimes. Tal situação é problemática, uma vez que, além de encorajar os indivíduos a estarem de acordo com atitudes que ferem o complexo social, ainda desvaloriza e subestima as vítimas envolvidas nesses processos.

Sob uma primeira análise, é válido discutir uma das consequências mais explícitas do fenômeno abordado. A romantização de crimes é causada principalmente por meio da mídia e da indústria cultural, que por sua vez influenciam os indivíduos a acatarem a imagem idealizada de determinados infratores da lei e casos criminosos. Por conseguinte, como o universo midiático tem significativa relevância na sociedade em geral, os indivíduos passam a defender, em muitos casos, os próprios transgressores. Tal posicionamento demonstra que, direta ou indiretamente, a população aprova atitudes injustas e prejudiciais à vida em coletividade, ferindo os direitos básicos e sociais dos próprios cidadãos.

Ademais, a desvalorização das vítimas é outro resultado desse processo. Na série “Inacreditável”, da plataforma de streaming Netflix, é retratada a história de uma jovem que sofreu abuso sexual, mas que é acusada de fazer uma falsa denúncia de estupro. Assim como na ficção, o desamparo às vítimas é presente na realidade brasileira. Dessa maneira, a supervalorização e idealização de personalidades e atos criminosos configuram-se como um desrespeito aos indivíduos que, além de padecerem com o crime em si, têm que lidar com o desamparo psicológico da sociedade e sua concepção equivocada acerca dessa esfera da realidade social.

Depreende-se, portanto, que medidas são necessárias para resolver a situação. O Governo Federal, em parceria com o Ministério da Educação, dever inserir aulas de ética social como curso extracurricular nas escolas do país, além de promover campanhas e debates voltados para esse tema. Tais campanhas e debates podem contar com depoimentos de vítimas de crimes e profissionais da área, sendo realizados tanto em ambientes acadêmicos quanto nas plataformas digitais. Dessa forma, será possível conter a romantização de crimes no cenário brasileiro, e as atitudes dos indivíduos afastar-se-ão daquelas realizadas pela população no filme “Joker”.